você não sabe o que precisa até sentir. nem o que sente até precisar.

sempre gostei de escrever.

desde criança já fazia umas poesias na escola, daquelas de entregar um livreto pra mãe em alguma data comemorativa ou algo assim.

não eram as maiores produções já vistas, mas algo sempre me atraiu nas rimas fáceis, simples. que não demandam muito trabalho e, ainda assim, mantém a sonoridade.

o complexo já me distrai demais, não funciona, não dá.

mas, como toda pessoa que em algum momento se julgou demais (e até sei o porquê), eu parei.

só larguei mesmo, assim, nem lembro quando, mas parei.

nao escrevia mais nem o que era obrigada (sim, mesmo as redações em que era ótima). tudo me parecia chato e eu, impaciente.

sabe aquela sensação de ter tanto a expressar e não fazer ideia de como fazê-lo? essa me dominava.

nada me cabia, em nada me encaixava. todo lugar era um não lugar e eu nem sabia por quê sentia essa necessidade de pertencimento.

odiava não pertencer e odiava ainda mais precisar disso. era patético.

hoje, quando me surpreendo com esses pensamentos, ainda acho tão absurdos que me recrimino por tê-los.

mas, há algumas poucas semanas, algo mudou aqui dentro. não uma revolução, algo modesto, sutil, fugaz mas perene o suficiente pra me fazer sentir.

🌟

"a mudança". é engraçado.

coisas ruins aconteceram. um período horrível mesmo, em que precisei adiar trabalhos acadêmicos por pelo menos 2x, exaustão, pensamentos péssimos, uma autoestima no lixo, sem ânimo pra nada.

mas algo mudou. tal hora eu cansei. parei comigo mesma e disse agora vamos pensar menos no que tá ruim e mais no que precisa dar certo. o que não era pouca coisa.

busquei cada mínima coisa que me movia, interesses, atividades, conteúdos, tudo. nada passou despercebido.

fui atrás do novo também. busquei ajuda profissional pra entender o que tava errado comigo. descobri o que eu sempre soube, só não queria admitir:

que eu tinha medo de ser o que eu queria ser. um medo absurdo, de ser julgada e rejeitada só por ser o que eu sou. gostar do que eu gosto. pensar como eu penso.

medo de simplesmente ser e pensarem que tô fazendo isso pra me sentir superior, quando a única coisa que eu mais queria era me sentir bem. em paz comigo mesma.

e aí eu lembrei. como magicamente lembro quando as coisas complicam.

escreva. organize sua mente.

escreva nem que sejam só uns rabiscos aleatórios no papel, ou um poetrix de 3 linhas que exponham o sentimento ali, concreto. palpável. real.

é como tirar um peso do peito, ver aquilo tomar forma e pensar "então é assim que eu sou". é isso o que eu penso, quero e devo buscar.

óbvio que não é fácil. é MUITO difícil, de verdade. mas de algum jeito tá indo.

com uma rotina que sempre imaginei que odiaria. com descansos e pausas pra gratidão o tempo inteiro (calma eu AINDA não virei gratiluz, vamos manter o respeito).

uma rotina com espaço pra obrigação, pro lazer e para o que mais eu quiser descobrir.

sinto que há tanto sobre mim que ainda nem sei, mas, hoje, como diria Rupi Kaur, vejo tudo que não tenho — e concluo que é lindo.

das poucas certezas que tenho, afirmo: tô vivendo a melhor fase da minha vida. até agora.

porque o amanhã, bom, esse eu vou deixar pra depois. mas ele vem com TUDO. esteja você preparado, ou não.

aos 16, uma de minhas maiores inspirações, Sylvia Plath, disse "escrevo porque há uma voz dentro de mim que não se cala".

e, nos conhecendo, isso é tudo o que você precisa saber.

[escrito em 22.05.2022]

Ana Fiuza
Enviado por Ana Fiuza em 08/06/2022
Código do texto: T7533777
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