A transformação

Às vezes a gente precisa olhar para a nossa vida com a intenção de mudar as coisas. E mudar num sentido profundo. Às vezes a gente precisa assumir para nós mesmos que certas coisas já não fazem sentido, que certos contextos já não nos pertencem e que certas pessoas não nos são mais positivas. Por mais que doa, ou incomode, às vezes a gente precisa aceitar que não somos mais os mesmos, que não pensamos mais as mesmas coisas e que chegou a hora de nos posicionarmos a partir de quem nos transformamos. Não quer dizer que somos pessoas completamente novas, como se tivéssemos renascido. Quer dizer apenas que as experiências da vida nos permitiram encontrar novos horizontes.

O que acontece é que podemos nos sentir presos e limitados por aquelas coisas que insistimos em trazer conosco, quando na verdade elas já não têm espaço dentro de nós. E acabam se transformando em fardos difíceis de carregar. Coisas que antes eram tão agradáveis e queridas, passam a ser vistas com pesar e desespero. Por que isso acontece? Porque nos modificamos. Algo dentro de nós passou por alguma transformação. É natural que as coisas da vida, diante da nossa mudança inevitável, também percam o sentido de outrora.

É quando precisamos ser honestos conosco e com tudo o que a nós estiver relacionado e, então, eleger o que podemos manter ao nosso lado e do que precisamos nos despedir. E essa despedida não precisa ser traumática ou dramática. Ela pode – e deve – acontecer de uma maneira tranquila, natural, como coisas da vida. Porque nós mudamos. E talvez elas também tenham mudado para nós. Mas não quer dizer que as boas coisas não existiram. Que os bons momentos não foram reais. Que as boas lembranças serão simplesmente apagadas. Quer dizer apenas que uma realidade que um dia existiu, hoje se transformou numa doce e reconfortante memória. Nada além disso.

E quando somos honestos e responsáveis ao ponto de respeitarmos esse processo de transformação, evitamos tornar feio o que um dia foi tão lindo. Evitamos transformar em desgosto aquilo que um dia foi gratidão. E mantemos dentro de nós, dentro do quentinho do nosso coração, os aprendizados e as lições que levaremos conosco. Porque tudo chega por algum motivo. Mas nem tudo chega para ficar. Às vezes é passageiro, tal como nós. E precisamos deixar ir para que outros corações também se aqueçam.

(Texto de @Amilton.Jnior)