A derradeira vez

“Se você soubesse que era a última vez, teria sido diferente?”. Essa frase pode ser observada na produção Ponte Para Terabitia e nos leva a refletirmos sobre as últimas vezes que vivemos em nossas vidas. O que acontece é que superestimamos as primeiras vezes, não é mesmo? O primeiro beijo, o primeiro dia no trabalho novo, a primeira formatura do filho mais novo. Mas não as primeiras vezes que ficam em nossas mentes ecoando por horas e horas quando sabemos que momentos como aqueles jamais poderão ser vividos. São as vezes finais. É da despedida de um ente querido que parte desse mundo que a gente se lembra enquanto imagina outras formas que poderíamos ter usado para nos despedirmos. É da última conversa que tivemos com um amigo querido que nos lembramos quando ele já não está mais ao nosso lado. É do último momento com o amor das nossas vidas que nos rememoramos quando ele vai antes de nós. E daí ficamos nos perguntando como faríamos se soubéssemos que ali seria posto o ponto final, que ali a pessoa amada viraria a curva e seria levada pela estrada da vida. A gente imagina tantos desfechos alternativos porque nunca nos sentimos satisfeitos pelas últimas palavras, pelos últimos abraços, pelos últimos beijos.

Mas o fato é que a gente nunca vai encontrar uma resposta para a pergunta que abriu o parágrafo anterior. A gente nunca vai saber. Até porque é impossível voltar no tempo, embora muitos tenham esse desejo. É impossível fazer o calendário voltar atrás e nos levar direto para aquele fatídico momento. Entretanto, Renato Russo já nos trazia um conselho primoroso: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar na verdade não há”. O amanhã é uma incógnita. Ele não existe. E nem sabemos se existirá. O amanhã só acontece quando, enfim, se transforma no “hoje”. Isso quer dizer que tudo o que vivemos nesse exato momento pode ser a última vez. Pode ser a última vez que vimos nossos pais, pode ser a última vez que estivemos com os nossos amigos, pode ser a última vez que passamos um tempo juntos com a pessoa que dizemos amar. Não sabemos se haverá outra oportunidade. Ninguém pode saber disso.

E, então, se o amanhã não acontecer, você estará satisfeito pelas realizações de hoje? Ou será que faltou qualidade? Faltou brilho? Faltou um empenho maior da sua parte? Compreende o que quero dizer? A gente pode pensar na última vez como algo distante da realidade do tempo e ignoramos que ela já pode ter acontecido. É por isso que precisamos viver cada momento com intensidade e interesse. Fazendo o nosso melhor. Entregando-nos por inteiro. Para que depois, quando enfim soubermos os caminhos que a vida tomou, a gente não se arrependa pelo que poderia ter sido, mas não foi.

(Texto de @Amilton.Jnior)