O construir

A percepção de que devemos e podemos “construir” quando aceitamos a Jesus Cristo, requer uma consciente ruptura com o mundo que não mais nos pertence tampouco nos deve algo. A essa ruptura aqui quero dar o nome de rachadura (na civil dá-se esse significado pois retrata a maior dimensão que expressa uma ruptura profunda e acentuada), que abrange da superfície à profundidade do que nos formou e como nos tornamos. Romper com o mundo que conhecemos é principalmente romper com nós mesmos diante dele, de como o vemos e nos posicionamos, romper com a aparente arrogância de uma insuficiência velada, romper com as antigas certezas já engessadas uma delas é “se o mundo me deve, eu posso cobrar”, para então adentrar ao vazio da rachadura e começar a abdicar de si mesmo.

Na sabedoria popular o vazio dessa rachadura, o fracassar, o deixar-se cair, aparecem em tantos textos como o fundo do poço. Nosso instinto pessoal é lutar incessantemente e fazer de tudo para sair, até que nossas forças esvaindo-se do nosso espírito, nos permite aceitar que não somos suficiente, que ninguém irá nos resgatar, que o mundo continua sem ou com a nossa presença, e diante das novas certezas aparece um Pai misericordioso que tem o poder de tudo, de salvar você e o próprio mundo, junto com Seu filho que o acompanha e com mansidão e amor torna-se teu intercessor. Dizem que no fundo do poço há uma mola, discordo, no fundo do poço há uma compreensão de que somos pó e ao pó retornaremos, mas se Deus ainda sim nos ama quem sou eu para não aceitar ser envolta por esse amor? abrindo mão do que fui ou sou para aceitar que dependo inteiramente do poder do meu criador, que nos alcança e nos resgata, reintegrando-nos em um mundo que não mais nos pertence.

O resgatar nos ensina que nossa suficiência é e está em Cristo, não sendo possível projetá-la mais nas circunstâncias, nos lugares, nos bens, nas pessoas, no mundo que corre e independe de nós… Passamos a entender, portanto, que felicidade está nos pequenos prazeres, em gerir os instantes tristes, criando em todo lugar um ambiente saudável para se estar, usufruindo do anonimato que retornando para o lar proporciona revisitar a essência e a partir dela ver oportunidade de sempre ser grato. Se a história do que nos formou e trouxe até aqui nos entristece, porque não, dar a ela outro sentido sendo o precursor da criação de uma nova história? Se o mundo não me oferecer o que acho que mereço, antes de cobrá-lo, preciso compreender se me respeito suficientemente para entender que não parte do merecimento o valor do meu significado, e ele só encontra sentido no ser.

Rompendo com o mundo, com o próprio ser, abdicando das próprias certezas, nos impulsiona querer construir o que virá ser uma intimidade com Deus. Nos permitindo verdadeiramente sermos moldados por Deus e portanto sermos amados, a paz frequentemente nos visita, a resiliência nos sustenta, há abundância até na escassez, liberamos o perdão, não nos prendemos em meras chateações, conhecemos os nossos limites, compreendemos com facilidade, julgamos com dificuldade, desfrutamos melhor da nossa companhia, celebramos os encontros, nos damos o direito de aprender, ensinar e somar, abdicando das palavras vazias para a compreensão do que é amor.

Portanto, o construir é sem amarras, começa no agora, ressignifica o que pensávamos que sabíamos, planta tâmaras sabendo que não irá colhê-las, adentra o lugar santo sem sandálias, pois se precisar andar pela brasa bem sabemos que Deus continua nos sustentando, nos alimentando, preenchendo e amando.

O mundo continua sem nós, mas agora sabemos que não fazemos parte dele, estamos só de passagem enquanto construímos uma vida na eternidade que começa no agora… estarmos mais próximos do Pai é o desejo que norteia dos infinitos individuais às horas.

13/11/2021

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 13/11/2021
Reeditado em 14/11/2021
Código do texto: T7384994
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