um dia vamos morrer e eu só quero viver

- “algum dia, todos nós iremos morrer, Snoopy!”

- “verdade, mas todos os outros dias, não.”

a vida é pautada na imprevisibilidade do tempo. já parou para pensar como seríamos se soubéssemos o dia de nossa morte. se já nos comportamos de forma leviana, como se fôssemos viver para sempre, quando sabemos que somos finitos, imagine como seria se soubéssemos o dia exato em que partiríamos. temos vivido como se o amanhã fosse algo garantido, quando só podemos torcer para estarmos vivo no dia após o hoje. já li em vários lugares que devemos viver como fosse o último dia, o último abraço, o último sorriso, a última despedida. realmente não temos como saber quando será a última vez. assim como o resto da humanidade, eu também não estava vivendo como se eu fosse finita. a bem saber, eu não ligava muito se seria muito o meu último dia ou não. eu tenho vivido numa letargia que me faz vive no modo automático. eu sei, você pode pensar que eu sou jovem demais para ser tão pessimista. mas aí que está, o fato de eu ser jovem é o combustível para eu ser tão displicente com a minha vida. a verdade é que eu nunca tive grandes sonhos, ambições que provoquem em mim um desejo de provar que sou a melhor. eu sou apenas uma garota comum que vive a sua vida comum, mas que se permite rascunhar algumas palavras em uma fria tela de computador e ler livros para fugir da sua realidade. eu sou uma pessimista conformista de minha vida sem sentido. eu sei que estou soando ainda mais pessimista que usualmente, mas ter pego esse vírus que assola o mundo há mais de dezoito meses tem mexido com a minha ansiedade. eu me sinto uma vítima, solitária, amargurada, literalmente sem ar – eu só quero me lembrar como é respirar. Esses dias de reclusão em mim tem me feito entender que a vida é passageira e eu um dia vou deixar de existir. o que me faz questionar o que eu tenho feito que deixará uma marca no mundo e naqueles que me conheceram. eu digo: nada! não há nada que eu tenha feito em meus vinte e cinco anos de existência que perdurará quando eu me for. eu nem sei dizer se sou uma boa pessoa – talvez eu nem sou, apenas uma garota chata e irritante. eu estou tentando me convencer que eu vou ficar bem, que eu sou forte e vou sair dessa. que os motivos para sorrir ainda são muitos e que essa aflição logo vai passar. que a dor, física e emocional que estou sentindo, vai passar. eu juro que estou dando o meu melhor para ser grata acima de tudo. eu já chorei muito esses dias e estou tentando não chorar mais – óbvio que está sendo em vão, já que eu estou com lágrimas nos olhos agora. tudo vai passar! tudo vai recomeçar, diz a canção de tiago iorc, bilhetes, que tocou aleatoriamente aqui. o meu tempo está passando, eu ficarei mais velha daqui uns dias e só consigo enxergar agora como eu tenho me privado de viver por medo de tentar. é como se eu tivesse colocado em minha cabeça que não mereço ser feliz. eu tenho em mim a sensação de que nada que é bom dura na minha vida porque eu sempre estrago tudo – e é verdade. eu vivo em uma espiral de emoções ruins e problemas, que as alegrias são poucas e contadas. eu sinto saudade de me sentir leve. se há algo que quero extrair de tudo o que estou sofrendo agora é que a minha vida inteira cabe num instante e eu só tenho uma chance. talvez um dia, quem sabe, eu acabe acertando.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 02/11/2021
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