A peneira…

Na engenharia geotécnica (ciência de comportamento dos solos) o teste de granulometria é feito utilizando uma série de peneiras empilhadas numa ordem decrescente, ou seja, de maior abertura para a menor abertura. Na base dessa série de peneiras está uma tampa que recebe as partículas mais finas que passaram nas peneiras superiores, e a peneira imediatamente acima da base é a menor do que a peneira imediatamente acima dela, assim sucessivamente. O teste de peneiramento inicia-se no topo da série com 500g de solo e assim em cada peneira suas determinadas granulometrias são depositadas, com torrões maiores nas primeiras, medianos nas do meio, solo finos abaixo, até a base.

Porque “raios” estou descrevendo um teste de granulometria da geotecnia em um ambiente de textos? Para facilitar o entendimento do texto a seguir:

A medida que vamos acumulando vivências nós vamos construindo camadas abaixo de camadas da nossa personalidade. Quando nós somos jovens temos uma série de peneiras de grandes aberturas e nela passa grande parte do solo que depositamos, sendo depositado no fundo tudo o que ouvimos e situações que vivenciamos, estando suscetíveis à toda pluralidade de pessoas, comportamentos, sentimentos… Não filtramos muito e o resultado no fundo é quase igual ao que foi depositado (felizmente ou infelizmente).

No decorrer do “viver” a série de peneiras também abrangem as aberturas que vão se tornando menores, os limites vão se formando e os conceitos também, surgindo os preconceitos e as crenças limitantes ao mesmo tempo em que filtramos tudo que vemos e ouvimos até a abertura média da atual maturidade.

Quer um exemplo? Expõe uma criança a um preconceito racial e ela lhe dirá o óbvio, que todos somos iguais. Ela que está na fase de absorver tudo (peneiras maiores) ainda não foi exposta aos conceitos limitantes de uma peneira menor (por bem ou mal). Agora, expõe essa criança ao abuso verbal e moral que ela certamente irá absorver nos seus primeiros anos de vida, por não ter acesso as peneiras menores da formação dos seus próprios limites. O limite é um muro importante e ambíguo, pois o que limita nosso lar é ao mesmo tempo o que nos protege ou que pode nos aprisionar.

Estaríamos então fadados (ao fracasso ou ao sucesso, a sermos bons ou maus, respeitosos ou abusivos, empáticos ou agressivos, esforçados ou acomodados, carentes ou doadores de afeto, mesquinhos ou sábios, verdadeiros ou falsos, altruístas ou egocêntricos) desde a nossa infância? Não, porque no meio do caminho entre nascer e morrer nós aprendemos que podemos escolher. E quanto antes entendemos que nossas escolhas geram consequências, mais consciente estamos de fazê-las da melhor maneira possível.

Ao passo que a série de peneiras empilhadas geram o melhor resultado que foi possível obter do que estava armazenado nas peneiras superiores, e o bom engenheiro quando quer dimensionar uma estrutura não analisa somente o que está no fundo, mas toda à série acima. Há pedras que demandaram trabalho para serem rompidas, há solos finos que por si só não tem capacidade de resistência, e há escolhas diante de todas essas variáveis.

Se estamos suscetíveis a tudo que ouvimos é preciso reajustar a rota, se estamos sujeitos que nos tratem de maneira leviana é preciso reajustar a rota, se estamos errando com constância é preciso reajustar a rota, se optamos por machucar ao invés de educar é hora de ajustar a rota, se a tristeza e angústia não der trégua é hora de ajustar a rota, se estamos reclamando com frequência é hora de ajustar a rota, se parecer for a prioridade do ser é hora de ajustar a rota. Porque na formação da série de peneiras não há culpados, há responsabilidade, e é fato que situações muito difíceis nos fazem pular fases, mas Deus é o autor da rota!

E sob o olhar e a misericórdia de Deus, nos basta escolher e aprender…

18/10/2021

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 18/10/2021
Reeditado em 18/10/2021
Código do texto: T7366457
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