Dentro de nós

A vida é um fluxo contínuo. Um ciclo comum a todos nós. Chegamos a esse mundo, passamos por alguma experiência e, então, numa determinada hora, num dado dia, partimos. Acontece com todos. A morte é invencível e insuperável no sentido de que não podemos escapar da nossa partida. Poderemos permanecer vivos no coração, nas memórias de alguém. Ou até mesmo poderemos atravessar para um plano que a mente humana não pode imaginar e por lá continuar a nossa caminhada. Mas o fato é que desse mundo um dia não mais faremos parte. Assim como aqueles que amamos. A nossa partida nós não vamos sentir. Talvez sintamos medo da morte, raiva na hora de ir embora e dor nos últimos suspiros. Mas depois que os nossos olhos se fecharem não sentiremos mais nada. No entanto sentimos, intensamente, a partida daquelas pessoas que tanto estimamos. E esse sofrimento não acaba quando os seus olhos e suas narinas se fecham. Ao contrário, essa dor aumenta quando o último fôlego é, enfim, desfrutado. E, então, na ânsia por acalmar nossos corações, no ímpeto por afastar aquela amarga e cruel saudade, saímos por aí procurando por aquele que nos deixou. Frequentamos os lugares que ele frequentava, falamos com as pessoas que ele falava, juntamo-nos a grupos de sujeitos que apresentem características parecidas com a daquele que conquistou o nosso carinho. Às vezes dá certo, sentimo-nos melhores, mas ainda assim insatisfeitos. Isso porque aqueles que partem são únicos.

Nós somos únicos. Podemos ser parecidos. Podemos até mesmo ter o mesmo nome. Mas só existe um Júnior como eu. E se você se chama Maria, só existe essa Maria que nesse momento lê essas palavras. Somos ímpares ao ponto de ser inútil buscar por aí aquele que tanto amamos. Ele não está mais em lugar nenhum, se foi, partiu. E nossa busca pode apenas nos cansar e adoecer. Só que pode existir uma solução para essa procura aparentemente impossível. Aqueles que amamos criam morada em nossos corações. Então é dentro de nós que podemos encontrar a pessoa amada.

Isso mesmo. Dentro de si pode estar aquele que você tanto amou, que precisou deixar ir e cuja ausência faz seu coração sangrar. Como era aquele que você amava? Sentia-se livre na vida? Sorria pelos pequenos detalhes? Sabia valorizar a vida em suas delicadezas? Que tal agir como aquele que levou consigo uma parte do seu amor? Que tal fazer o amado ou a amada permanecer vivo ou viva vivendo como ele viveu? É claro que não podemos assumir seus lugares, não seremos exatamente como eles foram, mas podemos seguir um pouco do legado que foi deixado, podemos exercer um pouco do aprendizado que obtivemos compartilhando momentos e experiências com aquele ou aquela que já não está mais ao nosso lado. Percebe que não precisamos ir muito longe para encontrar aquele que nos enche de saudade? Basta que façamos uma viagem para dentro de nós mesmos e deixemos que em nós resplandeça a grandeza e a riqueza daquele que um dia iluminou as nossas vidas.

(Texto de @Amilton.Jnior)