Vida

Nos corredores escuros tateei e encontrei o elevador. Ao entrar, as luzes se acenderam. Não havia numeração, nem botões, nem nada. Só o aço inoxidável por toda a parte. Sem espelho. Se quisesse ver como estava precisava olhar para dentro, pelos meus olhos. Não via o que estava atrás nem meu próprio rosto, só o que havia à frente.

O elevador iniciou o seu movimento, para cima, com velocidade constante.

De repente, as portas se abriram. Na minha concepção era o primeiro andar. E era, não o primeiro andar do local, mas da criança, ou melhor, da bebê à minha frente. Tive a impressão de que ela seguiu o caminho formado pelo carpete do longo corredor no andar, tão extenso que eu não conseguia visualizar seu início. Ela, aparentemente, dava os seus primeiros passos, em minha direção. Tropeçou na fenda do fosso entre o piso em que estava e aquele em que eu pisava. Rapidamente a apanhei e a segurei em meus braços antes que ela pudesse atingir o solo. A neném conteve o “choro de susto” e me abraçou forte. As portas se fecharam.

Seguimos juntas no elevador. Era um caminho sem volta, sem indicações de onde estávamos e para onde iríamos.

Paramos novamente. Outro andar desconhecido. Uma outra criança, mais velha, entra.

- Oi! – Ela disse e, antes que pudesse responder, começou a tagarelar. Parecia que nos conhecíamos a anos e que me apresentar ou perguntar quem ela era seria uma ofensa.

A caixa de aço, gaiola de Faraday, em que estávamos seguiu seu rumo.

A bebê em meu colo estremeceu e a menininha parou de falar subitamente, por causa do tranco que a máquina deu. Estava acalmando-as quando uma adolescente entrou e nos fez companhia.

Não parecia triste, nem feliz, e sim, confusa, tentando organizar seus pensamentos e sentimentos. Nos cumprimentou por educação e voltou ao seu profundo silêncio na fala, na mente havia muitos ruídos, acredito.

Percebi que se passaram alguns andares.

De repente, o elevador parou totalmente. As portas se abriram e ele desligou. A adolescente e a menininha se entreolharam, como se soubessem a razão daquele estranho momento.

A jovem retirou cuidadosamente a neném de meus braços e deu um tapa carinhoso nas minhas costas, o que a criança também fez. Elas olharam para a frente e percebi que estavam apontando, com o olhar, o caminho que deveria seguir.

- Não se preocupe, a gente te espera! – disse a tagarelinha a quem me afeiçoei. Na verdade, me apeguei a todas elas, naqueles segundos, minutos, enfim, durante o tempo indefinido que passamos juntas. Cada uma era encantadora do seu modo: a bebê era sorridente e carismática; a menininha era extrovertida e sincera; a adolescente era madura para a sua idade, compenetrada, responsável.

- Até logo então! – Roguei para que não fosse um “Adeus”.

- Até! – responderam em uníssono as meninas e a neném acenou com a cabeça, como se reiterasse o que disseram. Elas estavam tranquilas, certas de que isso aconteceria, de que nos veríamos novamente.

Segui para a primeira porta, a primeira experiência daquele andar. Estava com muito medo, não fazia ideia do quê ou de quem me esperava lá dentro. No entanto, a certeza do que me esperava lá fora, aquelas meninas, o sorriso e o aceno delas na memória, me fez seguir em frente.

- Muito obrigada... Vida!

Inspirado nos textos e reflexões do meu amigo escritor, Hudson Oliveira.