Não escolha sofrer, escolha aprender

“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”. Essa é uma das mais belas e profundas frases de Carlos Drummond de Andrade com algo tão poderoso a nos ensinar, com algo tão valioso a nos oferecer: a oportunidade de contemplarmos a dor como uma etapa natural da vida, uma consequência diretamente ligada ao crescer, amadurecer e evoluir que todos precisaremos enfrentar, atravessar, vivenciar. E sendo ela algo natural, como parte da vida, pode ter muito a nos ensinar como qualquer outra experiência que tenhamos o prazer e a sorte de experimentar. Podemos escolher aprender com a dor ao invés de sofrer por ela.

A dor é protetora. Cientificamente falando ela demarca os limites do nosso próprio corpo e avisa sobre potenciais perigos que estejam à espreita. Graças à dor nosso braço não se quebra quando o levamos para as nossas costas: o incômodo que sentimos indica que até ali a articulação suporta, dali por diante algo desagradável pode acontecer. Pessoas que nascem desprovidas da capacidade de sentir dor geralmente não passam da infância: a mais simples das infecções, que na maioria dos indivíduos causaria ardência e um desespero por sará-la, pode levar à morte alguém que não é capaz de sentir que algo não vai bem com o próprio corpo*.

Isso falando pelo aspecto fisiológico. Mas e quanto aos outros aspectos de nossas vidas? Não poderia a dor ter essa mesma função? A de nos proteger? A de nos avisar sobre os nossos limites? A de indicar quando somos de algum modo ameaçados? Ela é incômoda, não é uma das sensações que procuramos para obter prazer, mas pode ser usada para o nosso próprio êxito na caminhada que trilhamos. Já ouviu dizer que a dor nos torna mais fortes? Arrisco dizer que ela nos deixa mais sábios. Podemos experimentar os mais variados tipos de dor, em nossas relações, nas decepções que sofremos, nos erros que não pudemos evitar ou quando as coisas não saíram como almejávamos. Infelizmente uma parte de nós opta pelo sofrimento. Pega essa experiência desagradável e pode até dar um significado maior do que ela realmente possui. E se entrega a um sofrimento que parece interminável. Eterno. Outra parte consegue aprender com tudo pelo que passou, segue em frente, sabendo exatamente quais caminhos evitar, quais passos melhorar, em quais placas confiar. Mas esse aprendizado só é adquirido quando buscamos por ele. Quando ao invés de nos considerarmos os mais azarados e injustiçados seres humanos do planeta, assumirmos o fato de que as outras pessoas também passam por desafios impiedosos, que como nós elas também sangram, choram, sentem dor. Talvez a única diferença entre todos nós seja que uns conseguirão aprender enquanto outros se renderão ao sofrimento.

E esse sofrimento parece aumentar a cada dia. Isso porque não temos a capacidade de sentir ou visualizar a dor como ela realmente é: um fato da vida. Um fato que como todos os outros vai passar. Algumas dores são mais fáceis de curar, outras exigem um pouco mais de paciência, mas todas passam. Passam desde que as deixemos ir. Desde que não insistamos nelas. Escolhendo pelo sofrimento. Cutucando a ferida aberta. É necessário deixar que os machucados cicatrizem. E que durante esse processo tenhamos a chance de aceitar o aprendizado que nos é oferecido.

(*) Para este parágrafo foi consultado o capítulo 7 do livro “Cem Bilhões de Neurônios?”, escrito por Roberto Lent.

(Texto escrito por @Amilton.Jnior)