E quando acaba?

Às vezes acaba. E isso é normal. A vida é feita de ciclos, não é verdade? Um dia fomos crianças curiosas, então nos tornamos adolescentes questionadores, passamos a ser adultos centrados e fomos idosos reflexivos. Um ciclo se encerra e outro começa. Assim é nas coisas da vida, inclusive com alguns de nossos relacionamentos. Não queremos que acabem, que terminem, que cheguem ao fim. Sonhamos tanto com aquilo, com a sua duração, com as emoções que seriam despertadas em nós, que ansiamos amargamente para que seja eterno, duradouro. Mas às vezes acaba. Por inúmeros fatores, de maneira que não podemos nos culpar ou culpar aos outros. É claro que alguns desses relacionamentos acabam por motivos trágicos. Mas a maioria termina porque já foi desfrutado na sua plenitude, era para ter somente aquela duração, tudo o que havia para ser oferecido assim o foi, eis que chegou o momento de seguir em frente, deixar o que foi bom nas lembranças e não tornar o que era tão maravilhoso em algo desgastante, arrastado, que exige uma força que não possuímos para que seja continuado mesmo já tendo acabado.

Isso não quer dizer que as boas coisas não existiram, que os bons momentos não foram reais, que os extasiantes sentimentos não foram verdadeiros. Enquanto durou, eles duraram. Enquanto durou fez sentido, foi genuíno, foi real. Que sejamos gratos pela oportunidade de termos vivido uma boa experiência e que tenhamos sabedoria o bastante para não destruir aquilo que um dia despertou tantas alegrias. Algumas relações acabam de maneira tão caótica porque foi insistido em algo que já não funcionava, que já extrapolara o aceitável limite, que os bons momentos são completamente esquecidos e só é lembrado o desfecho inimaginável e sofredor. Por isso precisamos de sabedoria e forças para aceitarmos quando a vida andou para frente, quando já não somos mais as mesmas pessoas, quando já não estamos mais na mesma sintonia: para que aquilo que enriqueceu nossas almas não seja perdido no meio do caminho.

Mas talvez quiséssemos envelhecer ao lado daquele que está partindo. Talvez quiséssemos dar o ponto final da nossa história tendo ele como nosso par. Mas a vida não é feita de desejos embora eles sejam importantes, é feita de fatos, e alguns não podem ser mudados, apenas aceitos. Talvez o fato seja que aquela pessoa não seja a nossa pessoa. Nos fez feliz enquanto era o tempo dela de nos fazer felizes. Mas agora chegou o momento de dar lugar para outro alguém que, esse sim, pode ser o alguém eterno com quem tanto sonhamos. E está tudo bem. A vida não obedece à nossa lógica de tempo e de fases. Ela tem a sua própria forma de acontecer. E só é surpreendido por ela quem não tenta padronizá-la, moldá-la, mas que se adequa à sua maneira de se manifestar.

Se insistirmos no que já acabou como desfrutaremos de coisas melhores que estão ansiosas para começar? Como participaremos de histórias com outras emoções, aprendizados e crescimentos? Como evoluiremos se nos aprisionamos em conceitos tão prévios? É verdade. Alguns conseguem relacionamentos duradouros, que são levados até o fim da vida, mas muitos dentre esses alguns são infelizes. Insistiram porque não ousaram recomeçar. Insistiram porque não ousaram aceitar que a vida não é como queremos, mas simplesmente é como deve ser. Outros são realmente felizes, tiveram a sorte de encontrar sua “alma gêmea” lá no começo de tudo. Mas não se esqueça de que cada um de nós tem o seu próprio caminho, a sua própria estrada, de maneira que as placas que guiaram os outros não são exatamente as melhores guias para o nosso próprio destino. Quando acabar mantenha o que foi bom e se permita aos novos começos que a vida pode proporcionar!

(Texto de @Amilton.Jnior)