O que é!

Já não vivemos a surpresa de como reagir a mudança abrupta e feroz dessa pandemia. Se antes aprendíamos em como readaptarmos a sermos distantes uns dos outros, hoje precisamos aprender em como sermos presença enquanto estamos perdidos nas nossas próprias dores.

Enquanto o luto, a política, usar ou não a cloroquina, ir ou não a rua protestar, se confundem e contundem quem de fato padece de: fome, de infecção pulmonar, da perca, de profunda tristeza, de medo, de violência doméstica...

Esse período refletiu em cada um de nós de diferentes formas, e a proporção que conseguíamos reagir e dar conta de conviver e assimilar a dor do outro, o medo, as circunstanciais ações que envolvia-nos nas relações com o outro, com o trabalho e com a nossa própria individualidade. E eu me pergunto quem era há um ano atrás, tendo uma sensação de que a maioria das pessoas que convivo também se questiona e vive um dia por vez. Se cuidando para que o nó na garganta não transborde em dias em que o que é capaz de nos mover é um exercício contínuo de fé.

Nunca fui expert em auto cuidado, nos últimos anos ensaiava aprender a me alimentar, me expressar, construir meus limites físicos sempre ultrapassando-os, mas a finitude me fez questionar se eu precisava a qualquer custo ser o que esperavam, se eu precisava me sentir culpada por descansar, se eu poderia resistir doando ainda que o outro tire proveito e me traduza como tola. Tola mesmo é pensar que sou tempero para todo gosto...

Na contramão de uma enfermidade, fui constatando que ser saudável é saber surfar na frustração com a certeza de que ela me ensina.

Na contramão de padecer pela imperfeição, aprendi a respeitar o que não é perfeito por natureza.

Ao invés de querer exigir o que é empático e respeitoso, fui agregando o que era possível e entendendo o que não é.

Onde ninguém conseguia me levar arrastada, corri por minhas próprias pernas (literalmente kkk).

Quando o certo era sofrer pelo dia de amanhã, escrever sobre o dia de hoje me permitiu agradecê-lo.

Se para adotar a leveza o natural é que esse período passe despercebido, optei por perceber o quão duro é.

Com meia dúzia das minhas vivências, que são minhas!

Com todos os meus desfeitos, que se possíveis por zelo eu os melhores, ainda são os meus defeitos.

Com voz, com sentimentos, com profundidade que não cabe a qualquer superficialidade.

Já não convivo com a surpresa abrupta e feroz que esse tempo me modificou, ele veio, ficou e pode passar, quem de nós se manterá o mesmo? Quando o que é descomplicado é poder se acolher e ser, o que é.

01/06/2021

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 01/06/2021
Reeditado em 01/06/2021
Código do texto: T7269110
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.