Desassossego

Sabe, foi uma semana bem pesada. Não só para mim, mas para o Brasil. Tantas notícias ruins, tanta coisa estranha acontecendo, que eu só consegui reagir e muito mal, por sinal. Desde semana passada que as coisas estão dando errado. Eu fui jogada em situações que não sei explicar como eu entrei, mas acho que consegui sair sem danos tão graves – apesar da imensa vontade de sumir. A minha ansiedade quase me sufocou em momentos impróprios, mas eu consegui me acalmar e fingir que estava bem, inteira. As pessoas acham que porque eu sou uma pessoa forte (e na verdade, eu nem acho, eu só finjo mesmo essa força e resiliência toda), eu aguento tudo. Mas, não é assim. Pessoas intensas sentem tudo. E os ansiosos sentem mais ainda. Eu não queria ter que lutar tantas batalhas, mas infelizmente eu vivo em guerra. Após um intenso combate, termino a semana em pé, que é mais do que eu imaginei chegar. Contudo, saindo um pouco de mim, as notícias dessa semana foram devastadoras. Eu olho tudo e só consigo pensar em como tudo está um caos. Milhares vidas perdidas para um doença na qual já existe vacina (estamos chegando em 420 mil mortos); parte da população que não sabe se vai ter o que comer ou não (o auxílio emergencial nunca foi tão necessário); aviões dando banho de agrotóxicos em crianças nas regiões de disputa de terra. Penso ainda no ataque a uma creche em Santa Catarina e na chacina que aconteceu no bairro do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, em que 28 pessoas foram assassinadas (por favor, não vamos entrar na discussão de eram bandidos ou não, pois o Estado deve prender os suspeitos, não os executar). A morte do querido Paulo Gustavo, que eu sempre admirei por enxergá-lo como um ser humano incrível – que eu descobri ser mesmo, no relato dos amigos. Isso me faz muito reflexiva. Estou introspectiva com tantos acontecimentos. Isso me faz crer que no Brasil atualmente se você não morre por Covid-19, fome ou baleado, adoece psicologicamente diante do pesadelo de dias tão sombrios. A comorbidade que mata é ser cidadão brasileiro. (Ah, não poderia esquecer do passeio de moto do presidente e do véio da Havan ou a dancinha do mesmo com o Tirulipa - vergonha alheia define). Eu sei que tudo o que relatei aqui é uma realidade distante de mim, que estou segura, em casa, alimentada, com meus entes queridos, mas é impossível ver tudo isso e não me abalar. Eu tenho minhas questões internas e externas, que me abalaram muito, e que me deixam revoltada, esgotada, triste, magoada, decepcionada. Nunca fui tão subestimada, ignorada, silenciada. Mas, eu me mantenho aqui, lutando. Travando batalhas internas para conseguir sair da cama e enfrentar a rotina. É difícil não sucumbir. Eu sei bem como é... Todavia, como não sentir muito? Como não me importar com tudo o que está acontecendo internamente, em mim, e no meu país? Ter saúde mental está impossível nos últimos tempos. É absurdo! Quem consegue se manter ileso e não se afetar diante desse pesadelo coletivo, precisa rever urgentemente o próprio senso de humanidade... Eu sei que não é textão que resolve alguma coisa, mas eu cansei de guardar tudo para mim. Só consigo escrevendo... Até quando sustentaremos essa situação? Até quando a gente vai aguentar viver nessa angústia? Eu juro que não sei até quando aguento mais (todo dia eu digo que não aguento mais, mas sigo adiante... mas tudo tem limite).

Desculpa o desabafo.

Relatos de uma garota comum – em crise.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 08/05/2021
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