A casa antiga

Você tem razão quando diz que eu sou muito acumulador. Eu sou mesmo. Descobri isso ao tentar fazer uma faxina aqui em casa. Mas a cada objeto que eu pegava, uma lembrança me atingia. Talvez eu seja um acumulador de lembranças, não? Tudo parece tão nítido quando eu toco algo que está relacionado a minha história. Numa dessas gavetas esquecida na minha velha escrivaninha, eu achei uma chave. Passei um bom tempo olhando para ela, tentando me lembrar de onde era a porta que aquele pequeno objeto abriria. Aí como uma onda arrebentando no mar eu lembrei que era a chave da minha casa antiga. Que saudade de casa! Guardei a chave alguns dias. Decidi criar coragem e ir a minha casa antiga. Fui até ela. Talvez a chave ainda conseguiria girar na velha fechadura. Talvez a porta ainda poderia ser aberta. Talvez eu ainda me sentiria em casa. Mas, ao abrir a porta, mesmo sendo a mesma casa, já não era mais a minha casa. Mesmo sendo a mesma porta, as mesmas janelas, paredes, objetos, não era mais a minha casa. Existe algo que não é mais familiar. Existe algo que não se encaixa mais. É a mesma casa, mas eu não sou a mesma pessoa e você não está mais comigo. É a mesma casa, mas não é mais o meu lar. Guardei a chave e sai. Essa velha e pequena chave é a minha casa.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 14/02/2021
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