O novo mundo e a distância

Acordei com um feixe de luz do sol da manhã entrando pela minha janela. Um pouco de sono querendo me fazer permanecer na cama. Acho que faz parte do processo de reativação da memória. então vou lembrando que este dia nasce igual a muitos outros, e só o que muda é a época, talvez esse pensamento tenha vindo porque não é mais o despertador que me acorda, mas sim uma notificação de algum aplicativo. Logo ali o mundo de pessoas que fazem parte do meu universo estão acessíveis.

Penso de como o mundo ficou "pequeno" com a revolução dos transportes, agora menor ainda com a evolução da comunicação. Poucas coisas mudaram tão rapidamente. Será que sou anormal por não me sentir normal no novo normal? O normal novo a que me refiro é seguir o fluxo da mudança do mundo para não ficar "isolado", ou talvez o tal isolamento de hoje seja o normal de ontem. Antes quando uma pessoa se mudava, ela realmente se afastava dos parentes e pessoas conhecidas.. ligações telefônicas eram caras e os contatos não eram tão instantâneos, mesmo assim dava pra saber as vezes sobre como andavam as coisas ou matar aquela saudade. Hoje tudo é diferente, um aplicativo de mensagem instantânea pode me trazer as pessoas mas distantes, ou fazer amigos que em outra época não eram possíveis, este é o lado bom. Porém como tudo tem algum preço a pagar, a tecnologia me expande no tempo de trabalho. Porque mesmo em casa ainda falo com meu chefe sobre coisas do trabalho. Não querendo ser como aqueles que não resistem a necessidade de dramatizar as mudanças do mundo, mas será que estamos preparados para algo que mudou o mundo tão depressa? Ferramentas tão inteligentes e com o poder de dominar a atenção? Os próprios criadores destas ferramentas do vale do silício admitem que não.

Não preciso de uma grande inteligência artificial da "NASA" para sentir isso.

Um simples aplicativo de mensagem esteja talvez mudando algo importante sem percebermos. A ordem para os cristãos por exemplo é algo como: "crescei , multiplicai-vos, porem deixai sua casa.. formará sua própria família". Algo assim.. já se sabia que os filhos devem viver suas vidas em lares separados com suas próprias famílias, o drama que criamos e conflitos é algo que não evoluiu desde a antiguidade, a família no sentido mais tradicional da palavra, geralmente tem laços mais próximos, e portanto as relações podem ser mais profundas . Quando crescemos sempre existiu a necessidade de uma certa "distância". Esta palavra também está passando por um processo de normalização diante das ferramentas. O que pretendo com isso tudo? se chegou até aqui me lendo, deve ter lembrado de algum drama recentemente vivido, ou criado, ou mantido de alguma fonte. Quem sabe de seus parentes próximos? talvez de um grupo de família, trabalho, amigos.

Cada vez mais tenho a sensação de que as pessoas se dão uma liberdade maior para falar o que vier a cabeça, poderiam falar se fosse pessoalmente? O contraste de uma distancia física porém não emocional. Então é isso, o tempo passa e estamos todos numa mesma casa virtual, juntos convivendo , e temos a obrigação de estarmos disponíveis para dar a devida atenção de quem convive conosco e em tempo real, do contrário podemos ser taxados com uma pessoa isolada, distante, esquisito, rancoroso. A vida deve ser cada vez mais pública e menos pessoal, a dopamina do face como disseram. Talvez alguém que não compartilhe inúmeras viagens online ou fotos de muitas situações, pode ser considerado uma espécie chata sem uma vida plena.. pois onde estão as provas disso? Só posso dizer que adoraria manter distancia sempre que necessitasse dela. Uma distancia responsiva e saldável, sem temer perder os meus queridos "contatos" para uma interpretação errada. Talvez minha necessidade da antiga "distancia" seja não somente para evitar alimentar tantos conflitos quem vem acompanhados com os benefícios das redes, mas para tentar recuperar alguma forma de privacidade, emocional ou mais autonomia nas minhas escolhas com menos presença de outras mentes; fruto, quem sabe, de um mundo que nos nos dava mais tempo pra refletir o que sentimos ou pensamos. Para mim essa realidade é canalizar as redes sociais para as necessidades mais mecânicas da vida, e por fim, experimentar uma felicidade mais prática e menos virtualizada.