Usurpado Poder

É incrível o quanto nos deixamos influenciar por algumas pessoas. Chega a ser assustador o quanto permitimos que nosso dia seja afetado, que nossos sentimentos sejam conturbados, por causa de apenas uma pessoa. E a culpa é nossa. Não é daquele que nos atingiu de alguma maneira, que nos controlou por alguns intensos instantes, fomos nós que concedemos a ele um poder que não lhe pertencia, uma autoridade que não lhe é devida, uma influência sobre a nossa existência que era nosso dever negar. Não podemos permitir que por causa de alguns poucos toda a nossa esperança, todo o nosso otimismo, toda a nossa crença no que de melhor há para se viver, se esvaia como num estalar de dedos. Muitos nos machucam, magoam nossas almas em seu mais profundo âmago, é como se sentíssemos seus dedos esmagarem nossos corações, e depois disso, quando estamos emocionalmente acabados, fisicamente esgotados, partem como se nada tivesse acontecido e continuam suas vidas, suas vítimas. E nós ficamos observando incrédulos, afogados em lágrimas de angústia e pavor, de decepção e frustração. Não é fácil, mas é necessário que sigamos em frente.

Por isso é importante que saibamos impor limites, que reconheçamos que ninguém deve ser a nossa razão de viver. E quando digo isso é no sentido literal, não no romântico, sonhador, aquele que inspira tantas histórias de amor no imaginário e no mundo real. Algumas pessoas se tornam tão dependentes de alguém, acreditam piamente que sem aquela pessoa nada seriam, que acabam se submetendo a realidades desgostosas. Está errado. Não podemos nos render dessa maneira, não podemos desconsiderar o nosso potencial e nossa responsabilidade de nos fazermos felizes, de sermos suficientes para nós mesmos. Tudo bem compartilhar a vida com alguém, fazer conquistas juntos, mas jamais acredite que seu valor precisa ser reforçado por outra pessoa, que sua serventia só será notada se dirigida a algum egocêntrico mesquinho. Somos importantes. Precisamos ser vistos por nós mesmos, não porque alguém “concedeu a sua misericórdia” e nos permite estar ao seu lado. Às vezes ele é só um usurpador que suga a nossa luz, mas que não tem nada de próprio. Precisamos ser vistos pelo nosso próprio brilho.

E quando nos tornamos afetivamente dependentes de alguém, como se só nos sentíssemos reais quando os olhos do outro estão sobre a nossa existência, corremos o risco de sucumbir a atitudes impensáveis. Renegamos nossa própria vida, damos as costas para os nossos próprios sonhos, jogamos o lápis na mesa e permitimos que mãos alheias o dominem a passem a escrever nosso destino. Fadamo-nos a uma vida de infelicidades e irrealizações. No começo pode parecer tudo tão mágico, sedutor, seguro, mas não demora muito para que a nossa alma suplique amargamente pela sua liberdade, para voar, sobrevoar, livre das amarras e dos limites impostos por aqueles que nos controlam ao seu bel prazer.

O poder que as outras pessoas exercem sobre a sua vida foi dado por você. Está cansado de muito fazer e pouco ser considerado? Está cansado de procurar fazer se notar e o outro só ter tempo para si mesmo e seus próprios caprichos? Livre-se disso. Tenha em mente que cada um de nós merecemos ter ao nosso lado pessoas que lutarão conosco e não contra nós, pessoas que comemorarão as nossas conquistas e chorarão as nossas dores. Pessoas com as quais teremos uma vida compartilhada, não competida. Essas pessoas existem. Nós podemos ser essas pessoas. Só precisamos entender que somos os maiores responsáveis pelas nossas expectativas, que ninguém deve concretizá-las por obrigação nem por aparente compaixão, e nem nós devemos colocar sobre as nossas costas a bagagem de alguém, ao contrário, podemos dividir os pesos, criar um grande laço de ajuda mútua. Isso é viver com os outros. E é isso que precisamos buscar no nosso cotidiano!

(Texto de @Amilton.Jnior)