Precisamos ouvir o que as pessoas têm a falar

Como explicado por Carl Rogers, um dos grandes teóricos que compõem a Psicologia Humanista, a grande maioria de nós é compelida a avaliar o que as pessoas estão dizendo ao invés de ouvir a mensagem que elas estão desejando transmitir. Isso se dá, de acordo com o autor do livro Tornar-se Pessoa porque “se compreendemos realmente uma pessoa desse modo, se estamos dispostos a entrar no seu mundo privado e a ver a forma como a vida lhe parece, sem qualquer tentativa para pronunciar juízos de valor, corremos o risco de sermos nós próprios a mudar. Ao ver como ele vê, é possível que uma pessoa se sinta influenciada nas suas atitudes ou na sua personalidade. Esse risco de ser modificado é uma das mais temíveis perspectivas para a maioria de nós”. Portanto, por esse medo que temos de mudar, por essa resistência inata à transformação que nos assombra, não apenas procuramos avaliar o que nos dizem, como buscamos diminuir as crenças que não se assemelham às nossas e, nessa atitude intransigente, damos abertura às intolerâncias e violências.

Precisamos ouvir o que as pessoas têm a falar.

Percebo como grande desperdício de vida e tempo querer se achar o dono da razão, o merecedor de todos os ouvidos ou o detentor da inquestionável verdade. Percebo como grande ignorância desperdiçar a oportunidade de conhecer, nem que seja um pouco, o universo que existe nas pessoas que estão fisicamente próximas a nós, mas humanamente distantes. Isso porque ao diminuirmos o outro pelos seus valores diminuímos a humanidade que nele existe, podemos até nos considerar mais humanos que ele e, nesse equívoco, distanciamo-nos da nossa capacidade de união e convivência.

Talvez a transformação não seja tão cruel quanto pareça, talvez descobrir outros pontos de vista sobre um mesmo foco não mude a maneira como pensamos, o que não é ruim, ao contrário, aproxima-nos racionalmente do que acreditamos e nos permite entender os motivos que levam o outro a pensar da sua maneira. Por outro lado, se formos encantados por outras formas de pensar, que problema há em se redescobrir? Muitos de nossos pensamentos são falsas construções, não passam de reproduções que aprendemos a repetir automaticamente, seja no âmbito que for. Esse contato com o divergente, esse encontro com outras falas, podem nos enriquecer absurdamente e nos tornar mais sensatos, afinal, não há lógica em avaliar algo sobre o qual não temos o menor conhecimento, até para discordar é nosso dever saber sobre o quê e o porquê estamos discordando.

(Texto de @Amilton.Jnior)