Propósito

O que se escreve quando somem o valor das palavras?

O que mantém em nós a calma diante do desconhecido?

Onde está a confiança dos nossos dias?

Por onde passa o medo da nossa existência?

Que dia tomaremos o próximo café?

Trago a luz as cinco perguntas que constantemente estão presentes no meu coração nos últimos dias. Não é de hoje que as palavras perdem seu real valor de comunicação ou expressão de algo, mas vez ou outra a fonte seca e os olhos entram em ação em um estado arrebatador. Ele é arrebatador porque me conecta ao mundo de uma forma única, as pequenas ações do dia-a-dia me dão o enorme prazer de observar como são as diferentes percepções de cada ser humano, por exemplo, durante o esperar de uma fila de banco. Nunca fui de olhar para o céu, mas perder as palavras me fez encontrar as estrelas, olhar o horizonte, ouvir o vento, conectar minhas reais necessidades e não ter pressa ao estar numa fila de banco. Perder as palavras me fez sentir a sutileza da presença de Deus nas pequenas coisas. As palavras secam quando as tempestades se tornam constantes demais para que eu possa verbaliza-las. Quando é o período de buscar energias positivas entre os movimentos de Deus e as próprias energias que o mundo me oferece, ao invés de me esvaziar delas ao tentar verbalizar os trovões, os relâmpagos e vendavais. Portanto, hoje escrevo sobre as outras 4 perguntas que estão no meu coração.

Fico imaginando como estaria o coração de Jesus ao ir orar no Monte das Oliveiras pouco antes de ser açoitado, crucificado, passar por intensa sede e dor. Qual o homem além de Jesus teria forças suficientes para ainda conseguir falar em sua oração, já sabendo o tamanho de sua dor no desconhecido? A Bíblia diz que enquanto Jesus se afastou dos discípulos para orar, o fez com tal intensidade que Seu suor era como gotas de sangue que caiam no chão, mas mesmo assim quando Ele retornou aos discípulos, os acordou, pediu que orassem e ali mesmo foi encontrado pela multidão e os guardas. A Bíblia não diz sobre Sua calmaria mas diz da angústia que Jesus estava e a forma como Ele reagiu a tudo que aconteceu posteriormente. É por esse motivo que Deus não nos fez conhecer o dia de amanhã, porque em todo momento estamos suscetíveis a sermos angustiados na espera dele, mas é de suma importância precisarmos manter a calma, resistir a dor apenas como testemunho de humildade e amor. Então, o que mantém em nós a calma diante do desconhecido? Sabermos que algumas coisas serão inevitáveis, mas são necessárias para que estejamos firmes, sejamos gratos e possamos aprender sobre como manter o nosso propósito VIVO. Não há facilidade para acalmar o coração, mas se torna um exercício possível sempre que temos um porto seguro chamado propósito e o confiamos ao capitão do barco (Deus).

Aprender a confiar inteiramente na palavra de Deus quando as águas do mar já estavam calmas e a fúria dos ventos cessaram certamente foi um exercício fácil para os discípulos de Jesus. Naquele momento o Senhor já havia repreendido a tempestade que assolava a calma do barco em que Ele e Seus discípulos estavam. Porém acalmar esse nosso coração desesperado durante a tempestade, requer de nós saber confiar em Deus nas horas difíceis, inclusive nos instantes em que pensamos que o nosso Senhor Jesus está ausente e descansando. E por onde anda a confiança dos nossos dias? Na fé que não somos capazes de enxergar com os olhos humanos, que não somos capazes de descrever concretamente, mas que pode nos transformar e a nossa existência, mesmo quando houver em nós do tamanho do menor grão de mostarda. A fé que nós precisamos ter naquele que por nós doou Seu filho, que nos deu a vida, que conhece-nos no íntimo, no sagrado e que nos ama mesmo quando não merecemos. Temos confiança na fé do amor que nos envolve diariamente, que faz dos nossos significados o verdadeiro valor das nossas relações, que transforma o simples ato de observar o entardecer em uma oportunidade de agradecer a Deus e contemplar uma partícula do Seu operar no nosso breve existir.

Bastou silenciar o mundo, reduzir a frota, fechar as igrejas e os teatros, os lanches e bares, levar o trabalho pra dentro de casa, precisar acalmar as crianças inquietas, manter o distanciamento dos amigos e dos nossos familiares na tentativa de estarmos todos seguros, para compreendermos ou querermos olhar para o nosso existir. O que fomos, o que somos, o que queremos, quais são nossas prioridades, como convivemos com nossa individualidade e como nos cuidamos, são perguntas que somente por existir poderemos responder. A certeza de que somos insubstituíveis no trabalho, de que poderemos ver nossa família nas próximas férias, de que tomaremos o próximo café na manhã seguinte, a certeza do cotidiano óbvio é a primeira que deixamos de ter quando observamos alguém tão próximo a nós receber um diagnóstico desanimador, quando perdermos um ente querido, quando observamos alguém tão cheio de vida ter que receber oxigênio porque perdeu a capacidade de colocar ar em seus próprios pulmões. A nova certeza da nossa vida passa a ser de que nossa caminhada é como uma centelha. Somos breves e isso nos causa bastante medo. Então de onde vem o medo da nossa existência? Me atrevo a escrever que sentimos medo quando pensamos que estarmos vivos é uma ação que depende unicamente de nós. E é nesse momento que lembrar que somos completamente dependentes de Deus, confiar que Ele faz de nós e por nós o que é o Seu querer, nos faz adquirir um senso de vida chamado propósito, que insufla nossos pulmões de algo muito mais valioso que o nosso próprio oxigênio. Propósito de sermos servos de um Rei que ensinou a multidão o que era amor ainda que em sua cabeça houvesse espinhos. Propósito de renunciar nossos desejos, confiando que Ele faz algo muito maior e melhor que todas as riquezas terrenas. Certeza de confiar que a essência que rege sua vida vem da mesma perfumaria que rege a vida do seu irmão, e por isso é filho tanto quanto você é.

O medo se esvai, e retorna a certeza de que somos uma centelha... Bem aventurado se você for a fagulha de amor, de generosidade, de ajuda, de respeito e de Deus na vida do outro. Bem aventurado se você for a exceção nesse mundo breve ligado as certezas materiais da vida, porque inúmeras pessoas tomam o próximo café somente observando se ele está amargo ou doce demais...

Que dia sentaremos a mesa para tomar o próximo café? Essa é uma pergunta que não sou capaz de responder! Amanhã será o amanhã, ontem foi o ontem, e hoje é o presente de poder ter ar em nossos pulmões!

“Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.“ Mateus 6:34

07/07/2020

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 07/07/2020
Reeditado em 07/07/2020
Código do texto: T6999052
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