Pensamentos aleatórios

Ninguém sabe o dia em que vai morrer. E considero isso uma dádiva, porque qual apavorante e estressante seria saber o dia da minha morte e ter a sensação de que não poderei fazer absolutamente nada para impedir que a minha vida chegue ao fim. E o fim traz mais incertezas que certezas. Eu acredito que existe algo além dessa breve vida que compartilhamos aqui, porque é triste imaginar que não existe mais nada após a morte. Que desesperador seria a minha vida ter um fim e eu não ter a vaga garantia de que o fim não é o fim.

Mas deixando de lado esse solilóquio macabro, eu estive pensando na morte. Não há como não pensar em tempos de pandemia, aliado ao fato de estarmos presos em casa, de quarentena, esperando a Terra voltar ao seu eixo dito normal. Muitas pessoas morreram até agora. É angustiante! Tantas vidas perdidas, tantas famílias despedaçadas. Não quero imaginar tal dor.

No emaranhado que são os meus pensamentos, eu fiquei pensando que se eu morresse amanhã, muitas coisas que eu queria fazer, não fiz. Eu comecei uma lista, tempos atrás sobre tudo que queria fazer e não fiz ainda, aos vinte e poucos anos. Coloquei a meta de dez coisas, só para começar e percebi que há algo de errado comigo, pois não consegui completar os dez itens. Que tipo de pessoa eu sou, que não tem dez coisas, ao menos, que quer fazer antes de morrer? Meu pai tem razão: eu sou uma pessoa sem ambição. Para nada na minha vida. E estou me dando conta disso agora escrevendo.

No entanto, se o isolamento social serve para algo, além, é claro, de nos deixar vivos, de salvar-nos de um vírus que não temos como lutar, por ser algo desconhecido, é a esperança de que nem tudo está perdido. Podemos nos reinventar, recomeçar, viver intensamente. A vida é mais breve do que eu imaginava, e que vontade de viver cresce ainda mais no meu ser. Enquanto não posso viver tudo o que me aguarda além da janela do meu quarto, vou cuidando de mim e buscando ser uma pessoa melhor. Essa é a minha única ambição: ser incomum mesmo sendo comum.

Madrugada do dia 11/05/2020.

P. S.: Descobri que a quarentena me deixa insone.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 26/05/2020
Reeditado em 26/05/2020
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