Dias Turbulentos

Nesses últimos dias o nosso país, bem como o restante do mundo, tem sofrido com as consequências da proliferação do novo coronavírus que ganhou proporções assustadoras e ganhou o título de pandemia. O mundo parou. As pessoas estão apreensivas e ansiosas. As ruas ficaram vazias. Surpreendentemente, os shopping centers interromperam suas atividades. E até mesmo emissoras de TV interromperam a produção de programas, reajustaram suas grades de programação e passaram a informar com riqueza de detalhes a grande parte da população atenta aos desdobramentos da COVID-19. São tempos difíceis, inimagináveis, talvez, transformadores, quem sabe, reveladores, com certeza!

A partir desse cenário que tantos enxergam como apocalíptico, as pessoas finalmente tiveram que encerrar a correria do dia a dia, estão sendo forçadas a permanecer em suas casas, foram confrontadas com a verdade de que não vivemos em bolhas, não somos indivíduos autodotados de poderes surpreendentes, dependemos uns dos outros, estamos enxergando que em tempos como este nossas ações influenciam sobre a vida do outro, assim como o outro tem influência sobre nós. Relembramos que fazemos parte da grande família humana. Doenças, desastres e infortúnios não escolhem classe social, dinheiro no banco ou status, elas surgem e devastam a qualquer um. Diante delas resta-nos apenas uma certeza: precisamos nos preocupar uns com os outros. É uma pena que só estejamos prestando atenção nisso porque uma força invisível, maior do que nós e que tem nos assombrado, se manifestou e revelou o quanto o mundo é unificado, não importam etnia, nacionalidade, somos um só, somos humanos sujeitos às mesmas alegrias e angústias.

Pais e filhos agora estão dividindo o mesmo teto por mais tempo, estão tendo que conviver um com o outro e nessa experiência estão descobrindo o quanto têm perdido momentos incríveis por supervalorizarem a correria cotidiana e negligenciarem os instantes de afeto e carinho. Infelizmente algo doloroso tem forçado as famílias a se reencontrarem e perceberem que fora do celular também há pessoas incríveis com histórias maravilhosas e um papo bacana.

Fomos obrigados, também, a passarmos mais tempo com nós mesmos. Muitos só se sentem realizados se estiverem no meio da multidão, se estiverem com as pessoas que superestimam, e não há problema nisso, o triste é que se esquecem de si mesmas, vivem pelos outros e não pelas próprias convicções. Estamos tendo que ocupar o nosso tempo redescobrindo as coisas das quais gostamos. É uma pena que só estejamos adquirindo tais aprendizados a partir de tempos nebulosos.

Espero, sinceramente, que saiamos desse desafio mais humanizados, que possamos carregar os ensinamentos que têm surgido até o fim dos nossos dias. Que não nos esqueçamos que além de nós, dos nossos anseios, existe o outro com os seus próprios desejos; que dentro da nossa casa há pessoas sedentas por carinho, pessoas que também podem nos ofertar consolo quando mais precisarmos; que em nós mesmos encontramos uma companhia ímpar, a que nos acompanhará até nosso último suspiro.

Que esses dias turbulentos passem o quanto antes, mas que deixem para sempre as lições que trouxeram: há coisas na vida muito mais importantes que o supérfluo por nós supervalorizado.

< Texto de @Amilton.Jnior >