Coisas Demais

Terminou comigo extenuado jogado numa ponta da cama de braços abertos mirando o teto.

Avança o tempo.

Terminou comigo elétrico duas e meia da manhã com os olhos estatelados no breu do quarto, sentindo com a ponta achatada do polegar os ossos que rodeiam seu nariz, sentindo com o meu afundado em seu crânio o cheiro do couro cabeludo já há dois dias sem lavar.

O amor é sujo. Como tudo que vale um mínimo de esforço.

Retrocede o tempo.

Começou com meu braço se estendendo em busca do seu, convidando à cama. Dia comprido, cheio, estafante. A noite vem, assim, como um coice cadenciado, sem fim e levemente opressor. Deitar e escolher um filme e assisti-lo todo. Na calma. Sem álcool nem pretensão. Descansar, só.

Mas acontece e quando percebo já estamos.

Numa nanovisão: veias dilatando, sangue correndo quente e pulsante, preenchendo cavidades.

Quando percebo seu rosto já assumiu a face do demônio lascivo que és.

E eu não me aguento.

Sinto tanta paixão ao observar a inclinação primeira à esquerda em que seu sorriso se desenha que me dói tudo sem doer nada.

E minha protuberância vai de encontro à sua fenda; encontram-se entre tecidos nossas fábricas de problemas, nossas mãos e rostos, mãos nos rostos rostos nas mãos, a dança incansável inejoável dos corpos todos se friccionando, das bocas e línguas se esbarrando mordendo babando e eu me afasto e livro do claustro meu mastro.

Que ganha o ar.

Que ganha seu espanto.

Lançando uma sombra roliça em seu rosto afogueado.

Que faz com que você arfe.

Que faz com que o meio de duas pernas lance um brilho úmido.

Que faz com que eu o ofusque com minha boca sequiosa por teu gosto, minha puta, minha putinha suja.

E te chupo como se minha vida e a continuidade dela se resumisse a apenas e tão somente isso.

Te vejo se retorcer em agonia com a dedicação de um ourives, com o ódio latente de um amante inseguro.

Chupo, esfrego, bato, estico, lambo e dedo o cu com toda a raiva enciumada que ataca meu coração quando penso que também pode pensar em outro alguém que não eu.

Te persigo com o clitóris entre os dentes enquanto gozas desvairada com a extremada cólera que permeia a possibilidade de que esteja comigo sem sentir o que tua boca fala.

E eu monto em cima de você, bato com a cabeça inchada da minha rola vascularizada dura feito pedra na testa da sua bucetinha.

Cuspo na cabeça do meu pau e bato na sua cara te olhando no olho porque você é minha.

E te atravesso as carnes sem cerimônia porque você é minha.

Desde o primeiro minuto.

Desde o primeiro copo.

Desde o primeiro beijo.

Deslizo em você por dentro, por fora, por cima. Em um, dois, três buracos.

Gemo no teu ouvido puxando seu cabelo enquanto você explode o cu me cavalgando porque eu sou seu, desgraçada.

Desde antes do primeiro minuto, copo e beijo, eu te quero tanto e muito.

Enquanto você pede, implora e vibra pelo meu clímax, sobrevivo à hecatombe do meu gozo estertorado com o desejo velado de te dizer as palavras mais lindas e prenhes do significado tão cheio de ternura que nutro e cultivo dentro de mim.

Silencio. Silêncio.

Me evado de você e rolo pro pra ponta da cama com os braços abertos e o coração na boca.

Não consigo falar, não falo, te cultuo, fica comigo com toda a força do seu ser da mesma forma que fico com você, confie em mim mesmo que seja indefensável o contexto que nos pôs juntos aqui e agora pois agora é tudo o que temos.

Te amo já e muito e tanto, apenas, dona do meu transbordamento, pessoa que abarca meu mundo e que a tudo nele ressoa meramente sendo.

08/08/2019 - 03h21

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 08/08/2019
Reeditado em 08/08/2019
Código do texto: T6715115
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