Falta amor, meu senhor! Falta amor!

Qual é a cor do cabelo da guria que aqui há pouco passou?. Qual é o fio do novelo de esperança que em tuas pernas se embaraçou?. Qual é a pedra no caminho que teu passo atrapalhou?. Qual é o nome do medo, que ainda hoje cedo, na tua voz se embrenhou ?. Qual é o grito do povo que esse poder vil, corrupto e asco silenciou? Qual é a faca afiada, que a carne corta, mas a alma cegou?. Qual é o preço da culpa, do peso, da vida, do monstro que você criou?. Qual é a cor do Brasil, que aqui há pouco passou?. Há tempos era verde, amarelo, era anil. Que agora é de sangue, é de dor, é febril. Que agora é direito regresso, é lembrança esquecida. É lamuria de um povo, sem eira, sem beira, sem voz, sem clamor. É esmola na esquina, é criança pedinte. E a sociedade, em requinte, cega, não vê!?. É o céu que era azul desbotando em cinzenta massa escura de dissabor. É criança que chora, é fome, é falta, é ferro a quente, é brasa em teu peito, em tua pele ardente, nua. É que já era pouco, era pouco, quase nada, e agora acabou. É o quê afinal, há final?. É a fila que dobra, é o remédio que falta, não chega e aniquila a dignidade de quem nem sabe mais como sentir sua dor. É a espera de um leito na fila do SUS, é a espera da esperança... não tem não, meu senhor!. Lá vem a senhora, fazendo algazarra, implorando uma vaga, uma dose de alento, o que for...o que for...E a sociedade, hipócrita, censura o barulho, afinal, não sabe na empatia da sua humanidade, se compadecer por outra, que não seja a sua egoística umbilical, dor. Falta amor, meu senhor! Falta amor!