Pele

Por que essa tarde quente, esta noite fria, esse dia anódino? De onde essa praia lisa, essa areia branca, esse céu profuso? Por que esse corpo enxuto, essa boca grande, esse olhar preciso?

E quando criança eu olhava meu sexo no espelho.

Na juventude o hedonismo andino, a terra espessa, o terreno ermo. Para que essa pele dura, esse ser nefasto, essa alma negra? Meus dentes mordiam a fruta insossa, tua saliva dura, tua baba preta.

Meu abraço percorria o vento, perpassava o espaço, agarrava o dia. Teu cabelo me tirava os olhos, me roubava o sono.

O suor inundando a cama, recolhendo o gozo, ensinando a lida. E sonhos me trazendo olhares.

Foram os teus olhos firmes, tua pupila inchada, a retina exata.

E quando eu acordava via que a vida é um desespero mutuo, uma dor latente, uma agonia boa.

Foi teu corpo espalhando o tempo, surrupiando encanto, formando vertentes.

Nos sermões sagrados sempre me diziam que a vida vai de encontro à morte.

O porquê desse sorriso branco, esse lábio esguio. De onde essa calma insípida, esse espectro frouxo, essa ausência morta? Por que essas palavras findas, uma dor diáfana, essa alma nua?

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 30/03/2019
Reeditado em 30/03/2019
Código do texto: T6611261
Classificação de conteúdo: seguro