Houve um tempo, quando eu só ouvia e não sabia sobre o amor, que eu me calava.
Meus olhos seguiam qualquer possibilidade, qualquer sinal e cada pequena demonstração de amor. Eu me interessava por aquela sensação (soube depois: sentimento) que fazia as pessoas sorrirem sem motivo aparente e flutuarem, sem nunca tocar os pés no chão. E acompanhava o depois: o susto de saberem-se em pé novamente. Alguns caíam feio. Quebravam a cara ou partiam os corações. Outros sabiam descer do encantamento sutilmente e ainda de mãos dadas com o outro. Não raro se viam casais em que um já sem amor ainda carregava o outro que flutuava cego da ausência de amor do companheiro. Eu os assistia acontecer como se fosse o meu filme favorito. Entender esse sentimento era o que eu mais queria e comecei a anotar os dados da minha pesquisa, com detalhes e à mão. Até que comecei eu mesma a ter sensações que descartei por medo do que pudesse ser, mas anotei cada coisa. Foi assim que me tornei poeta.
Eu me recusei a flutuar várias e várias vezes. Pelo medo da queda. E quando eu decidi arriscar... eu caí. E quebrei a cara e parti meu coração. Por certo parti o coração do outro também. Juntamos todos os pedaços, mas depois já não flutuávamos mais. E teve outros. E outras. E eu me senti leve, me senti caindo, me senti despedaçada, me refiz e comecei de novo. Então um dia encontrei alguém que fez até a alma sorrir e não flutuei. Senti o meu exato peso, nem mais, nem menos. E mesmo sem dar as mãos, andávamos juntos, tomávamos o mesmo caminho. A primeira conexão não foi de paixão e por isso tive a sorte de ter meus pés sempre no chão. Um amor estável, que não foi do dia pra noite, que é da terra e me enraíza e me faz ver. Que porque não flutua, não toma o caminho do vento e sim o caminho que escolhemos. Eu nunca tinha visto algo assim.