Irremediavelmente sós

É preciso saber escutar as verdades do silêncio;

É vital enxergar as formas no escuro;

É fundamental se entender e acima de tudo se respeitar, pois no fundo só podemos contar conosco, com nosso sangue pulsante, com o suor extenuado de nossos esforços e com a dor ímpar de nossas lágrimas. Estamos irremediavelmente sós.

Regozijamo-nos com migalhas de sentimentos alheios, esmolas de atenção,breves e efêmeras lembranças em e-mails coletivos, ligações fugazes ou sazonais encontros que se esvaem em brumas, como nuvens que se espalham para jamais se reencontrar.

Somos imensos desertos com raríssimos oásis, muitas miragens e dunas nômades.

Somos imensos vazios com algumas poças de vida e o sonho de nos tornarmos oceanos.

Somos raros acertos e um sem número de enganos, somos megalômanos que crêem que um Deus olha para cada um de nós e não nos permite estar completamente sós, pobre de nós.

Acreditamos ser imperfeitos por sermos metades em busca de sua sempre melhor parte, aqui, em outra vida ou em Marte, nos intitulamos uma fração sonhando com a unicidade, que jamais será completa, pois o desgaste das histórias individuais impede que as peças se (re) encaixem sem que deixem espaços vazios que só tendem a aumentar exponencialmente.

Vivemos fadados a nos iludir por não conseguirmos alcançar a verdade, por não aceitarmos que tudo se acaba em uma fração de segundo e que o mundo continuará a rodar sem a nossa presença.

Somos ilhas que eventualmente se unem formando ilusórios arquipélagos, nos visitamos com pontes tênues e balouçantes, poucas de mão dupla e com conservação precária.

Somos estrelas distantes anos-luz uma da outra, enxergamos o que não mais existe ou que já não corresponde à realidade, somos um conjunto tosco de meias-verdades e quimeras.

Só a solidão é real, o resto mera utopia.

Ello
Enviado por Ello em 15/11/2017
Código do texto: T6172842
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