Um Ser Incerto

O caos. A tempestade que antecede a calmaria, a dúvida disfarçada de inquestionável certeza. É a alegria morna nos dias de chuva. É se perder em multidões e encontrar-se secretamente ouvindo Los Hermanos.

Ser.

Preferir o silêncio porque a mente ensurdece. Demonstrar frieza por não querer que o mundo veja a erupção dos meus eternos vulcões internos, silenciosos e ardentes.

Ser é estranho.

É entender os outros e não entender a si mesmo. Agir por impulso, fazer planos mas permitir constantemente que o acaso me guie.

Ser é quase assim, ou não. Ainda não consegui alcançar essa certeza e isso é bom.

A vida nunca se pintou de cor-de-rosa, nunca consegui calar ou ponderar diante de absurdos evidentes ou de inércias convenientes.

Não sou dada a meio-termo, prefiro os extremos e quase sempre eles são opostos. Para além dessa coragem que sempre ostento, há medos absurdos que guardo a sete chaves. Prefiro a determinação da segunda-feira ao tédio de um domingo, a dor da certeza ao incômodo do talvez. Eu insisto nas perguntas mesmo quando acho que já tenho as respostas.

Sou companhia e solidão. A paz do meu quarto me seduz tanto quanto a fúria do mar em ressaca ou as tempestades. Alguns fins são tão necessários quanto os começos são valiosos.

Já me arrependi por falar muito, mas nada comparado ao arrependimento por calar quando não deveria. Eu ainda sinto medo de amar.

Sou assim, ando tentando me achar na teoria mas continuo completamente perdida na prática.

É difícil atender expectativas, ajustar-me ao comum. Vou revidar até o último golpe quando acreditar que estou em uma batalha, mesmo que eu as evite constantemente. Frequento o inferno das emoções, é lá que encontro forças e recupero a capacidade de enxergar o outro, de me enxergar.

Os terremotos me reconstroem, a fúria das tempestades me fazem renascer.

Sou sempre Renata, disso já estou certa.

Se te assusto é porque sou o caos e você pode se afastar por não conseguir me compreender ou não querer se machucar. Eu sempre respeitarei as suas escolhas, mas nunca poderá dizer que tentei te enganar.

Renata Vasconcelos