Sobre a "iniciação" ao feminismo. Aos pré-adeptos, adeptos e futuros adeptos..

Nessa de feminismo tem muito homem que erroneamente, acha que pode dizer o que se encaixa ou não dentro de uma atitude feminista, sem nunca ter passado nem sentido metade do que vivenciamos. E muitos não o fazem de todo mal, talvez nem percebam. Algumas mulheres caem no mesmo "erro", julgando umas às outras dentro de suas escolhas individuais e tentando desvendar se aquela atitude foi ou não feminista. A própria palavra "julgar" não cabe no feminismo, mas temos que admitir que ela existe com todo seu significado na humanidade em diversas situações diárias. Isso é um erro comum, mas faz parte daqueles erros "desculpados", "justificados", pois estão mascarados dentro de uma ideologia respeitada pelas pessoas que a defendem. Por isso mesmo, é difícil "perceber" quando estamos sendo até mesmo injustos e contraditórios. Afinal somos seres humanos.

Temos que entender que cada indivíduo possui liberdade para ser, pensar, agir (e "não agir"), como achar melhor, sem ter que se preocupar com padrões.

O erro é montar um padrão na cabeça e achar que todas as mulheres feministas devem agir de uma determinada maneira. Aliás esse papo de padrão e "dever" foge do que queremos, como foi indagado acima.

Não somos um padrão e nem por isso deixamos de lutar pela mesma causa. Se o feminismo é a liberdade de ideias, pensamentos e atitudes da mulher, tentando conquistar seu espaço, se o feminismo é igualdade social, econômica e política, então o feminismo deveria ser entendido e respeitado dentro de cada realidade. Caso contrário voltamos para a ideia de imposição, que é do que queremos fugir.

Vejo homens e mulheres, iniciantes nessa literatura, buscando ser ou observar "feministas ideais". Ops caímos novamente dentro de um padrão, uma ideia montada. Não existe nada disso.

Se existe liberdade para ser, também existe a liberdade para não ser, não aceitar, para dizer: - não, eu não gostei disso!. Desde que a mulher se sinta livre e confortável com sua escolha.

Um exemplo típico e tosco da nossa sociedade: - "nossa, mas para quem é feminista, você deixou pagarem sua conta!?. Não são as mulheres que lutam por direitos iguais?". Ora, primeiro: ninguem tem nada a ver com a maneira com a qual você lida com suas contas. Segundo: atitudes gentis de um amigo/namorado não significa que você dependa dele, apenas que o casal decide quando e como é a maneira mais adequada de agir em determinada situação, sem comprometer nenhum dos dois. Se o valor não é importante naquele momento, pra mim, significa mais um gesto de cumplicidade e carinho e não de dependência. Terceiro: não existem regras, apenas o que a mulher se sente melhor fazendo.

Outra situação que percebo é a "aceitação" que espera-se que tenhamos com relação à qualquer atitude vinda de um movimento feminista, como se, por fazer parte do mesmo, as pessoas fossem destituídas de "errar". Ora, posso apoiar o movimento, mas não concordar com tudo o que todos os participantes pregam e a maneira como agem, afinal somos indivíduos acima de tudo. Isso deve ser respeitado. Obviamente o feminismo apoia essa ideia, o problema são as más interpretações.

Mesmo apoiando o movimento, todas temos a liberdade de dizer o que não nos faz bem. No último evento que participei vi mulheres fortes, engajadas, encorajadas e gostei disso. Aliás todas as mulheres são, porém nem todas se permitem reconhecer. Vi mulheres declamando poesias sobre suas lutas diárias como forma de protesto.

Porém teve coisa que não foi do meu gosto, por exemplo uso de palavrões (que sim, me ofenderam) no cardápio do evento. Entendi o tom de protesto, mas não foi algo com o qual me senti à vontade.

Além disso, senti a falta de organização do pessoal da "loja de roupas", que não tinha máquina de cartão, nem sacola e nem espelho no provador. Compreendi o lado delas, que não foi proposital, mas me mostrei decepcionada, logicamente. Nessa ocasião, teve gente me falando: - "calma, é um evento feminista, deve ser a primeira vez delas, vc está muito séria".O que eu quero dizer é que me senti sem liberdade para reclamar e demonstrar meu desgosto.

O que me surpreendeu para o lado positivo foi que uma garota que eu não conhecia e não fazia parte da loja, mas participava do evento, me ajudou a encontrar um local melhor para provar as roupas até vir um espelho e ainda me ajudou a segurar as peças sem que eu pedisse. E outra amiga, ofereceu seu dinheiro para que eu pudesse adquirir as peças. Não aceitei e optei por pegar o contato da vendedora. Porém ali vi um espirito de cumplicidade entre mulheres.

Inclusive comentei essas coisas com uma das organizadoras que recebeu a "crítica" de maneira construtiva ao invés de me julgar como "desconhecedora" do protesto. Não tem como agradar a todos e nem como acertar sempre, mas o que importa é o respeito que se tem e a tentativa de construção de formas eficazes de divulgar os ideais.

A sociedade precisa parar de rotular e julgar e enxergar que a liberdade real é não haver esteriótipos de comportamento. O feminismo em que acredito é justamente o direito do sim e do não, quando e como se achar melhor. Tem a ver mais com liberdade de opinião e ação. Do contrário estaremos regredindo ao invés de evoluir

Deisi Motter
Enviado por Deisi Motter em 13/08/2017
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