Observei
Eu observei umas pessoas pelas ruas enquanto os meus pés doíam e me perguntei quanto pesava a vida pra cada uma. Sorri enquanto pensava
Se a ruiva comia ovos no café da manhã
Se a morena baixinha chorava todo dia antes de dormir
Se o loiro de barba ralinha estudava engenharia ou preferia francês
Eu me questionei se o velho estranho chama alguém de puta só porque ela usa batom vermelho e se já tinha tido um amor uma vez na vida
Se o cara de jaqueta preta amava tanto alguém quanto o meu pai ama beber
Se o negro era professor na universidade
Se eu sentia tanto medo de me apaixonar quanto a mulher de cabelo curtinho e olhos azuis perdidos que cruzou seus olhos com os meus.
Eu me perguntei se o cara alto tinha medo do escuro e se gostava de estudar ou adiava cada trabalho
Se o que se fazia de forte com suas camisas vermelhas e convicções​ políticas não tremia um pouco na cama por causa de crise de ansiedade
Se a menina de altura mediana e trança gostava de dançar em público ou se seria tímida demais pra isso.
Eu vi pessoas e descobri que amo essa pluralidade de ser
Mesmo que inventada pela minha cabeça e por estereótipos falhos
Eu amei aquelas pessoas pelo simples fato de elas serem pessoas e também existirem, pelo simples fato de eu poder tocá-las caso eu assim desejasse
Pelo simples fato de eu poder ter um pouco delas em mim e passar pra elas alguns dos meus pedaços
Mas eu não o quis
Preferi observá-las de longe
E olhando-as assim, por elas serem tão diferentes e tão iguais a mim
Lembrei de quando eu tinha vergonha de existir e medo das críticas
Lembrei do quanto eu cresci e de como hoje em dia eu rio de qualquer coisa e adoro constrangimentos
Como nunca, meu orgulho de mim mesma floresceu
E eu enchi minha alma de estrelas mornas
Saí correndo pra sentir na pele o pôr do sol
Agradecendo ao universo e ao cosmos pelo dom da minha existência
E pela última vez, eu chorei, desmoronei, cambaleando eu segui.