Silêncio também é sinônimo de amor

Conferência dos que não suportam espaço. Eu achava que amar era ter milhões de assuntos. Eu achava que amar era conservar pausas rápidas, entre um suspiro ou uma risada, para retomar em outro ponto. Pensava que a falta de palavras muito parecia com a falta de conexão. E não era. Nunca foi. Eu achava perigoso quando o temido silêncio se aproximava e só restavam os corpos espalhados no colchão. Qualquer tentativa de silêncio profundo deveria ser quebrada por algum assunto tomado de ansiedade e desespero. O medo do espaço. O medo da solidão do outro. O medo da solidão entre o casal. Acontece. É natural. Eu demorei a entender também. Acreditava que amar era faltar o ar, gastar saliva, preencher vazios e nunca permiti-los ser. Mas uma hora – essa bendita hora chega – todas as conversas encontram um ponto em que não podem ser mais recicladas, e por percalço do destino ou só a vida fazendo o que tem de melhor, o silêncio chega. E não há o que temer. Não é porque duas bocas não estão se movendo que elas não estejam em constante comunicação. Tem um corpo correspondendo ao movimento do outro corpo. Tem um organismo digerindo tudo aquilo que foi dito. Em uma relação precisamos de tempo para receber, compreender e acomodar. Seja na hora em que vocês se despedem e cada um vai retomar do seu jeito aquele dia, seja no momento em que discutimos enquanto um fala e o outro escuta, seja daqui alguns dias em que alguém lembra com gratidão: obrigada por ter compartilhado comigo. Os espaços existem para que possamos caminhar entre eles e ainda assim voltarmos para nós. Para o momento em que alguém quebra o silêncio com um barulho estranho ou correndo até a janela para ver a chuva caindo. Você é um universo de assuntos e temas que ainda quero descobrir, mas eu estarei aqui em dias de escassez profundas para amar e respeitar todos os seus silêncios.

Emanuele Rodrigues
Enviado por Emanuele Rodrigues em 20/06/2017
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