As palavras que saem do espírito pulsante

As palavras que saem de um espírito pulsante, poeticamente, por si mesmas não têm valor algum. O fato é que por si e para si e também para o outro, ela é palavra e é poesia. A poesia é a canção em forma de letras, ritmos sonoros, repetições como o bater do coração. O coração bate poeticamente, mas o que vemos e ouvimos de fato são as palavras e o som dessas palavras. O coração é em si mesmo uma palavra abstrata. É uma abstração profunda, daquilo que a poesia significa, quando toca em si mesma e o outro.

Dois corpos que se unem poeticamente, na verdade são, nada mais nada menos, que um buscar dessa abstração da palavra. Dois corpos que, materialmente falando, se desconhecem, não existiam para si nem para o outro, mas que buscando a pulsação da palavra, tornam-se um só corpo, uma só metáfora. Paradoxo um corpo ser metáfora, mas é que esse corpo perdeu seu sentido real de dois corpos estranhos, para tornarem-se um corpo plurissignificativo dentro do eixo essencial poético.

Deixar a palavra tocar em si mesma é se conhecer no outro. Isto serve também para o poeta: este não tem autonomia sobre o pulsar da poesia; isso é de ordem de quem bem a poesia de fora para dentro dela, o leitor. Porém, essa não-autonomia do poeta é que o torna abstrato, a ponto leva-lo a percorrer e a manipular as coisas dentro das coisas com a alma...

O poeta entranha na natureza das coisas, assim como um corpo em abstrato entranha em outro corpo em abstrato e se assumem essência de si mesmos e essência do outro.

A melopéia da palavra poética, traduz o profundo dos movimentos que entrelaçam sons, ritmos. Os corpos abstratos, resumem-se também em sons e ritmos, como as águas do mar insistindo a rocha.

O poeta agora pulsa por uma essência que em si mesma é uma palavra simples mas abstrata: VOCÊ.

lucheco
Enviado por lucheco em 10/08/2007
Código do texto: T601681