asas

As pessoas possuem muito medo do novo, da mudança. E a evolução é um contínuo mudar. Por tantas vezes estive em contato com o novo que já não vejo mistério nisso. Nasci filho de nômades, isso ajudou. Entendi que a vida é uma escola isenta de teorias, ela se manifesta no ato, na prática. Uma das primeiras lembranças é de estar na praia com meu pai ‘hoje tu vai aprender a nadar’ eu tinha uns três anos. Uma onda se ergueu, ele me suspendeu e me atirou na onda. Alguém que iniciou a vida assim jamais seria alguém comum, isso é bom. As pessoas comuns levam vidas tão opacas que ás vezes penso se Deus as esqueceu. Essas pessoas possuem medo de tudo, vivem em estado de real pavor, até mesmo da chuva, a primeira gota já faz a respiração ofegante, a pulsação atravessada. São criaturas que sonham alcançar a estabilidade mas esquecem que habitam um universo totalmente instável cujo um pedregulho é capaz de alterar a orbita dos planetas, sem contar que estamos no planeta Terra, um lugar onde espíritos infernais são coroados reis e seus caprichos derrubam palácios como castelos de areia. Isso deixa as pessoas ainda mais tremulas. Bom, se os pássaros fossem medrosos, usariam as asas pra esconder o rosto. O homem nasceu pra voar, ele não pode se identificar com os grilhões senão continuará preso por toda a eternidade. Quanto a mim? Desejo renascer como estrela, viver da própria luz e alimentar o cosmos com meu brilho. Isso sim é vida. A existência humana é triste demais, trágica demais, parece filme brasileiro. Talvez noutro lugar exista criaturas com alguma razão de ser, com graça, propagando o amor divino com a clara luz de seus sorrisos. Uma vez imaginado, perpetuado. A imaginação consiste na canalização de algo já existente, como dizia Platão, é um anzol no mundo das ideias. Provavelmente em algum lugar, num longínquo universo, existe uma esfera totalmente distinta da qual estamos, um lugar sem dor, sem dinheiro, cobiça, ódio, inveja, medo, um lugar onde essas porcarias são dignas de escárnio e o vento invés de uivar, sussurra como intuição.

Cristiano Corrêa
Enviado por Cristiano Corrêa em 01/06/2017
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