Em casa

Ando cada vez mais aérea, no mundo da lua. Ando cada vez no meu mundo, longe de tudo e de todos. Quero percorrer toda a distância que me separa de mim. A geografia aqui dentro me impressiona. Você diz que ando ficando muito sozinha. Pode ser. Mas não é bem assim. Eu estou viajando com os meus livros, descobrindo novas músicas (estou viciada na música Girassóis do seu cabelo, Silva), catalogando lembranças, coletando risadas e choros. Estou descobrindo muitas coisas sobre mim que não fazia ideia. Isso leva muito tempo. Ando fascinada com tudo que ando descobrindo. Não se preocupe. Estou ótimo. Estou com uma fome grande de autoconhecimento e silêncio. Me pergunto como passei tanto sem me visitar alguma vez. Como passei tanto tempo longe de mim? Acho que desperdicei um bom tempo tentando agradar aos outros, me iludindo na busca de uma cansativa aceitação. Sempre achei que amar era anular meus desejos e dizer não a minha liberdade. Dizer não para mim era a mais linda prova de amor que eu poderia dar aos que amo. Mas não é. Não sei quando mudou, mas mudou e gosto disso. Preciso desse tempo todo para mim. Por isso, tudo perdeu um pouco a graça. As festas não causam mais euforia, as selfies estão desbotadas, os risos parecem hipócritas. Quero outro tipo de conexão. A conexão com o silêncio. Ando cada vez mais caseira e descobri que a casa dentro de mim é enorme. Em breve receberei visitas, mas não hoje.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 16/05/2017
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