Decidir-se.

Decidir-se.

Deitou-se e decidiu-se. Quanta dor havia passado pelo coração que agora se reerguia como quem toma de volta o ar no fim de uma corrida cansativa. Quão bonito era e quão calmas eram as coisas que outra hora incomodavam. Pensou no que valeria a pena quando se vivia e que utilidade poderia haver em viver. Conseguiria guardar em si um mundo onde tudo que escolhesse para si fosse trazer consigo agonia e desespero? Não era só isso? Tinha perdido o encantamento? Fossem se danar os sentimentos? Era muito mais que o só. Bobo. Sentia muito e era de verdade quando conflitos internos e duradouros se instalavam, faziam casa, viviam e criavam laços. Quando se perdia e deixava o controle escapulir nas mãos e mergulhava em certos olhos e certa boca. Quando o corpo que era só se transformava num além difícil de conter e difícil de ser só. Sentia e era mais que só. Com certeza era. Apenas se fosse mais fácil ter encontrado o seu mais que se encaixasse perfeitamente e deixasse ser mais no lugar certo. Tortura demais para fazer deixar de acreditar e para se questionar se era Apenas, se era Só. Acreditava ter mais que além mas foi limitado por ser seu apenas. Verdade desde o início que escondida causou ilusão de um além irreal ou mentira que existe e que faz se limitar a um apenas que nem se compara ao além de depois? Não quis saber mais. Que se danassem os sentimentos. Mas que fosse louvado o amor. Que fosse. Talvez tenha sido necessário uma explosão que causou impacto em toda a região até o limite de si para se soltar e glorificar o amor como a chave. Pular do alto da vida, cair nas águas profundas de si e se afogar para descobrir-se e decidir-se amar.