Escorpião

Acordo no meio da noite, e não consigo voltar a dormir. Sinto uma ânsia de escrever, mas medo da responsabilidade. De concretizar o a motivação de abdicar de existir, e repetir, como no sonho.. falhar, desistir.

Será que as palavras ordenadas conseguirão fazer algum sentido? Será que terei mais, ou menos ódio depois de escrever? Chegarei em algum lugar condensando esse vapor latente em meu âmago? CHEGOU ALGUÉM EM ALGUM LUGAR ESCREVENDO SOBRE A SÍ PRÓPRIO ALHEIO AO MUNDO, E CERCADO DE SUAS BOBAGENS E DESEJOS, RAIVAS E DESAFOROS, MEMÓRIAS E ALMEJOS? acho que não... então, por que pretendo tanto? por que não simplesmente deixar a bola de lado, e sair dessa briga que sei que vou perder inúmeras vezes antes de aprender a ganhar? por que não voltar a dormir? sim...

Havia sonhado com a adolescência... amarga. Os 20 irmãos que tinha, nunca se disseram serem tais. Nem nunca explicaram que as brincadeiras mordazes sempre tinham de caráter sexual. Suponho hoje, que a minha incapacidade de enxergar as conseqüências de qualquer inspiração curta e freada, fosse demasiado engraçado para os outros. Já que os fardos coloridos e cômicos, eram sempre familiares.

As lembranças engessam minhas costelas quebradas, e me fazem querer voltar pra cama. Mas seria repetir o erro, de ir pra casa e fantasiar outro mundo. De abaixar a cabeça pro irmão mais velho, e de esquecer que em tudo há gênese e caducidade. Esquecer que aquele que da a vida a algo, é obrigado a um dia lhe trazer a morte.

Paro por um momento, pra um cigarro. Irei eu ser a morte hoje, ou novamente prisioneiro amanhã.

Olhei para minhas mãos e vi cicatrizes profundas, mas não são de algemas. Nunca cicatrizes de algemas. Sou livre pra desistir, sou livre para lutar, mas também sou livre para não definir. Posso largar a bola, e desistir de ocupar o lugar dos irmãos, pegar um livro ou o martelo e forjar em mim o verbo. Posso matá-los, posso abraçá-los, posso inesperá-los...

Deus e a ciência que me aguardem...estou vivo como nunca estive, e se permanecerem como estão, terei de atropelá-los.

Heitor Roman
Enviado por Heitor Roman em 12/01/2017
Código do texto: T5879342
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