Liberta-te

O caminho é longo, o tempo é escasso.

Os pés descalços sob o chão imundo, cheio de pedrinhas.

A ânsia de partir, porém as amarras nos pés, nas mãos, no coração e na cabeça, por pouco até a alma se torna prisioneira. Não! Não deixes aprisionar a tua alma, luta para que ela seja sempre livre, ainda que o corpo fique caído ensanguentado, marcado pelas correntes que te prendem a esse lugar repugnante, a esses seres malvados, a essa vida miserável e indigna.

Se não puderes caminhar, voa. Voa bem alto, para bem longe, pelo mundo, em busca de novas paisagens, novos seres, novos amores, vontade de viver. Não percas a vontade de viver, isso jamais! Vive, mesmo que te tentem asfixiar. Sê forte! Não desistas, por ti, por mim, por todos nós que continuamos acorrentados, com correntes grossas, frias sob a pele nua, marcada, dorida.

Ainda não tinhas nascido já estavas destinada a esse sufoco, ainda assim tinhas que nascer. Mas não sejas somente mais um ser nesse mundo de escravidão.

Liberta-te das correntes, das cordas, das grades, dos muros, das paredes enegrecidas pelo tempo, pela falta de trato, mas sobretudo das pessoas. Essas pessoas que te sugam a vida a pouco e pouco e que te prendem a esse lugar, a essa existência macabra. Liberta-te da prisão do dinheiro, esse por quem muitos são capazes de matar.

Foge, para longe, não tão longe, mais longe ainda, para onde for, mas foge.

Sei que te ardem as mãos, os pés e o corpo todo, na verdade não arde apenas, dói, queima.

Tantas marcas nesse corpo, que não te tenham marcado também a alma. A alma deve permanecer sã!

De que adianta querer ser livre, se a nossa liberdade não depende só de nós?

De que adianta querer voar se não temos asas, ainda que tenhamos o consolo do sonho?

De que adianta tirar as correntes do corpo se elas já aprisionaram toda a nossa existência e são herança para os nossos filhos e netos?

Menina pequena, já não tão pequena, talvez já não tão menina, talvez já mulher. Oh mulher, liberta-te!!