Sem RG

Um vazio. Um espelho com pequenas rachaduras. Nele, não encontro uma imagem para o meu próprio ser. Eu tento procurar as minhas verdadeiras linhas ou apenas ignorá-las e viver sob uma vida sem identidade. Não preciso provar nada e nem a ninguém o que eu sou ou deixo de ser, mas - às vezes - falta um pouco mais do encontro.

Tem momentos da minha vida que teria ter nascido mulher, para desfrutar da verdadeira essência que tenho dentro de mim. Uma figura delicada, mas longe de ser um sexo ou gênero frágil. Sinto-me acima dessas questões. Em outras circunstâncias, queria ter nascido homem e ter a valentia e o privilégio que todos têm (não vamos ser hipócritas).

Quando olho meu RG, fico incomodado. É mentiroso, falacioso, uma institucionalização de meu corpo e minha alma perante a sociedade. Eu não me encontro nos dois aspectos. Apenas me encontro como um ser humano sem um RG, algo que possa de fato ser meu. Não é uma dor de cabeça, mas uma pergunta: será pra mim ou para outros?

Sofia do Itiberê
Enviado por Sofia do Itiberê em 12/12/2016
Código do texto: T5850954
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