O Hipócrita

Às vezes há essa sensação estranha de ser réu da minha própria condenação pra que eu possa ser verdadeiramente condenado pelo desejo que eu tenho de fazer alguma coisa condenável. Em outras palavras, bem que em alguns momentos eu poderia ser alguém suficientemente desprezível pra dizer a verdade que eu tenho medo de dizer pela minha boca! Bem que minha boca poderia ser outra, de outro alguém, que não esta boca santa que é a minha. Mas logo eu teria que voltar à beatitude imaculada dessa minha identidade. Sempre tive medo de morrer em uma cruz.

Em algum momento, é certo - basta ver -, nos perdemos definitivamente de nós mesmos. É quando nos encontramos em definitivo e então podemos dizer o que queremos dizer, e nada é condenável. Nenhuma vírgula se altera do delírio do réu, mas o réu só se tornou injustiçado. E o injusto sou eu mesmo, quem condena.

Eu sou todos esses. Fingir o contrário é mostrar as muitas faces da mesma coisa e tentar fazer acreditar que são coisas diferentes. A isso, chamamos "hipocrisia".

Quem sou eu então? Diga-me agora, ou nem finja que sabe qualquer coisa.

Julião Morsa
Enviado por Julião Morsa em 11/12/2016
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