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Hoje tenho pelas minhas memórias um sentimento de quem olha, delas se afasta e segue...

Como se minhas reflexões fossem mais um fardo do tempo. Como um peso útil, levado por toda uma vida inútil, do tanto que fui e pelo que, hoje, ainda tão pouco sou...

A vida me foi tão rápida e nem sequer fui capaz de me encontrar... Entretanto, há pouco, passei a olha-las e ver as viagens do meu passado.

Tudo me fora como um cansaço de trazer comigo uma bagagem, na qual cabia a minha alma toda resistindo à vontade de parar, de libertar-me, de retira-la e descansar...

Fui eu, uma vida que, nem soube passar, apenas passaram-me. Dias, meses, anos e nem sei como tudo passou... Pois, todas as energias desprendidas, foram como uma febre intensa, do que vivi no ímpeto de ser esse frete de mim...

Carreguei as loucuras, os fracassos, e as glórias de sentir os pesos das tantas experiências absurdas, nessas viagens de uma vida quase sem rumo e perdida...

Ninguém suporta tanta carga. Tudo cansa... E a vida passando dói, porque me conheço tardiamente, pois só hoje abri a mala...

Só hoje...

Hoje que completo esses, repletos e tão poucos, anos...

Agora, enquanto penso, todos festejam-me, brindam-me e, entusiasmados, perguntam como estou...

Eis que, paro um pouco, sinto as coisas e me vejo, em pé, a segurar uma mala velha, com avarias, toda carimbada, pesada e cheia de mundos, mas que ainda insiste em querer viajar...

Então, sorrio e digo-lhes apenas: "esvaziando..."