É preciso amar?

O amor. O amor é um grande enigma da vida. Rodeado de subjetividades e interpretações. Há quem diga que não vive sem; há quem afirme que ele é dispensável.

Eu prefiro dizer que não vivo sem o amor próprio, mas as vezes é necessário semear do amor alheio, aquele que nos quantifica, que nos ajuda a progredir. Contudo, quando não o tem, seja por inexperiência ou por se fechar ao mundo, temos o sofrimento de um amor desconhecido. Isto porquê não teve, efetivamente, o amor de modo recíproco.

Há quem viveu amores incondicionais, daqueles que se tornam parte de nós. Há quem viveu aqueles amores de infância, o qual existirá eternamente guardado numa parte do coração. E existe quem teve que se contentar com paixões passageiras. Algumas trouxeram até um gosto de apego, com uma vaga ideia de que seria amor. Mas nada como tempo pra trazer o real significado daquilo que sentimos.

Era descartável. Não era amor.

Disseram-me que existem pessoas inteligentes e sábias. As inteligentes, aprendem com seu próprios erros; as sábias, com o erro dos outros.

Nos dias atuais, o amor tem recebido conceitos diferentes. O amor de livros, de novelas românticas e dos filmes de Hollywood ficaram nas décadas passadas. O amor atual nos aparece como um sofrimento com previsão. A carta é "pega mas não se apega". Por que se apegar, criar um vínculo afetivo, mesmo sem compromisso ulterior, pode se tornar amor. E há rumores de que reciprocidade também ficou naqueles filmes, portanto, é mais fácil não arriscar sofrer por um amor que corre o risco de não ser correspondido.

Mas isso traz um inimigo que mora logo ali: a solidão. Sim, ela mesma. Você pode estar se divertindo, usar e abusar do fervoroso desapego, mas sabe que após sua utilização, só restará você em sua casa. Ninguém estará te esperando. Após um tempo, ninguém estará em seu quarto para te consolar quando você precisar explodir suas emoções. E sabe, as vezes precisamos disso, e passado um tempo, o vazio não será preenchido somente com uma conversa amigável ou com amor fraternal. É nessas horas que ela chega. A insondável solidão.

Me pergunto se isso foi fruto se uma inversão de valores, ou se essa geração simplesmente perdeu a capacidade de amar.

O ego, o amor próprio, te permite sobreviver. Mas isso é o básico, é o que todos deveriam ter. Mas sabemos que tudo em exagero, assim como alimento, uma hora acaba. Talvez reste o necessário para passar os dias. Então, o que nos resta é guardá-lo? Omiti-lo? Ou simplesmente vivermos assim?

Permitir amar, em tempos de desapego, talvez seja uma decisão difícil. Mas arriscar é e sempre será o que nos fará caminhar. A vida é um grande risco. É através do risco que recebemos o sim. Pois o não é o que o mundo nos diz ao longo da vida, é uma das certezas que temos. Arriscando é que se descobre novos ares. É se permitindo arriscar que encontraremos o sim que nosso coração enseja.