Leão Solitário

Eu nego minhas memórias. Não sou mais obrigado a colocar minhas patas nessa terra. Longe de mim querer descartar os rios que já naveguei. Com apenas um raio, eu precisarei reaprender comigo. Assumir a minha verdadeira postura de um leão solitário.

Durante minhas caminhadas nessa selva chamada vida, eu lembro os vários momentos em botei meu coração para aluguel. Tudo era pegável. Tudo era usável. No princípio, sentia-me pseudofeliz em fazer isso. Era algo humano; dito puro. Um dia, percebi que nada era meu de fato. Bastou um raio para abrir esse crânio duro.

As pessoas têm vida própria, assim como tenho. Elas vivem seu curso, do mesmo jeito que estou vivendo. Aprendi a canalizar e assumir que o descarte é necessário. Eu apenas quero dizer que posso estender minhas patas aos outros, mas devo descartá-las quando a vida delas não me interferem. É egoísmo forte e radical. Pode soar feio pra mim, porém, não me torno hipócrita.

Foi-se o tempo em que correr os campos com outros era divertido e gastava horas querendo que elas fossem comigo. Hoje, prefiro que esse sol seja somente e que essa corrida faça apenas com minhas patas. Essa é minha função.

As pessoas podem chegar até mim e pedir que me estenda. Não me nego. Apenas não darei o meu coração como prêmio. Minha carne há de fazer esse papel. Assim, vou caminhando como um leão solitário que aprendo a ser.

Sofia do Itiberê
Enviado por Sofia do Itiberê em 02/11/2016
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