Podíamos ter sido mais.

Vi você atravessando a rua hoje. Meu coração acelerou e eu quase perco o equilíbrio. Creio que você não me viu. Nem poderia. Estava distraído com os seus fones de ouvido, olhando vagamente as pessoas. Fiquei atordoada com a sua imagem. E pior, os pensamentos que eu vinha engavetando saíram de uma vez. Fico com uma pulga atrás da orelha toda vez que a gente se encontra. Será que você fica anestesiado assim como eu quando nosso olhar se encontra por acaso em meio à multidão? Porque, cá entre nós, eu perco o chão. Tudo para. Prendo a respiração. Só paira no ar a minha vontade de você. A gente deu o que tinha que dar, ok. Mas eu não me conformo. Será que só eu sinto que podíamos ter sido mais? Porque eu queria mais, te conhecer mais, ser mais, de preferência com você. Queria saber o seu prato preferido, sua cor predileta, se você acorda mal-humorado, sabe? Foi tudo muito intenso e rápido, a gente passou e eu nem me dei conta. Nos encontramos e esse encontro marcou-nos profundamente, pelo menos em mim deixou uma marca. Mas como um cometa, passou. Cada um para o seu canto. Ambos partimos para outra e me coração ficou partido pelo outro não ser você. Que estranho o meu coração se apegar a alguém que passou tão rápido em minha vida. Será que você já me superou? Caramba, não estou falando de amor, nem de paixão, nem de nada tão forte, mas sei lá, eu sempre quero mais e queria ter tido mais de você. Não sei se você entende ou se vai achar estranho, mas eu sinto saudades de todas as possibilidades de ser o que não fomos. Sinto falta de um final feliz que nem se insinuou a existir. Louco pensar num futuro que claramente não chegou nem perto de corresponder ao presente, ou melhor, passado. Como sou louca por números, viajo ao pensar em todas as probabilidades matemáticas de uma vida nossa se tivéssemos sido mais que um casinho passageiro. Impossível não pensar no devaneio de que pode ser que você pensa o mesmo. Eu sei. Lá vem eu com a minha mania de dar importância para o que não vê importância nenhuma em mim. Mas a gente não foi qualquer coisa. Eu sei, você sabe. Só queria saber, quando a gente se esbarrar outra vez na rua, se você também se imagina do meu lado, de mãos dadas, sendo meu, eu sendo sua, nós sendo dois.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 01/10/2016
Reeditado em 06/10/2016
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