Atentado

Na verdade, são pessoas demais. Muitas além do que posso contar. Em uma semana normal, conheço, em média, oito novos seres humanos. Você sabe como funciona. Ficarei assustado se pensar que lembro o nome de cada um deles. Nossa memória é seletiva, e a minha não dá importância às formalidades. Existem três coisas que guardo dos primeiros encontros: rostos, sentimentos e expectativas.

As faces e suas respectivas expressões sensoriais a gente deixa pra outro momento. Ressalto que, talvez, essas sejam as principais informações a serem armazenadas no cérebro, mas como são muito sem graça, não faço questão de comentar. Nossa discussão será sobre as expectativas – infundadas e descabidas – que criamos sobre aqueles que acabamos de conhecer.

A gente vê um rosto, sente a vibração e, num tempo imperceptível, busca na mente os primeiros quereres. Por favor, dê um abraço descente. Não tenha mau hálito. Fale português compreensível. Seja minimamente sagaz. Curta boas músicas. Mostre-me interesse. Ame o que diz. Conquiste-me.

Bom, se você me conhece, foi assim quando nos encontramos pela primeira vez. Fantasio mesmo. Imagino sem dó. Espero de verdade que você corresponda às minhas expectativas. Todos começam na média. Ganham pontos se superam o que projetei. Perdem pontos se ficam abaixo do básico. Sim! É extremamente cruel, mas funciona desse jeito.

Nem vem me julgar. Cê faz assim ou pior. Transferimos aos outros todos os nossos preconceitos em questão de segundos. Ninguém questiona. É assim que gira a roda. Fato é que já impus minhas injustas vontades, e se você não atender a nenhuma delas, só quero que se exploda.

Nota do autor: Muitas vezes, a ironia é a melhor forma de provocar reflexão.