A foto que tirou de nós

A Noite foi fria. Impecavelmente gelada. Ríspida do modo como deveria ser. O Interruptor do Céu foi dito fugitivo e a Lua anunciada sua comparsa. Coitado do Sol, que já não mais é a estrela xerife. Tenho dó da Noite que, sozinha no escuro, foi obrigada a conter o escândalo.

O Dia não vem. Ninguém esperava que viesse. O Vento alertou a Chuva e juntos convenceram o Mar. Formada a tríade, resolveram vasculhar a mansão do Horizonte, os condomínios do Oceano e os parques temáticos da Terra. Não encontraram coisa alguma.

Era tarde quando bateram na minha porta. Mal sabiam eles que nós não fazíamos parte da história e, antes que pudéssemos explicar, mandaram-nos abrir as portas, os armários e todos os livros. Evidente que não descobriram nada. Parecem meio tolos. A Lua não cabe no apê e os interruptores que tenho por aqui não são o Interruptor do Céu.

Insistente, a Chuva continuou a xeretar e, num estrondo desnecessário, indicou-nos a janela do quarto. Sem a mínima vontade de abri-la, fui empurrado pelo Vento. Atrás do vidro fumê, do alto do prédio, fui o primeiro a enxergar a Lua. O Mar, em desespero, recuou as ondas e foi buscar o Dia e o Sol. Eles voltaram rapidinho e diante do ex-mas-atual xerife, o Vento te obrigou a fechar os olhos. O Interruptor do Céu era você. É uma pena que só eu tenha visto a Noite fria dançar com o Dia quente, misturar-se às Estrelas, à Chuva, ao Vento e ao Sol. Talvez, na mansão do Horizonte, o Mar lhe mostre a foto que tirou de nós.