Alforria

Um celular. Um dedo. A tua imagem aparecia diante da minha. Era o seu sorriso que analisava. Lágrimas caindo. Eram as memórias de um pessoa escravizada pela paixão e acorrentado pelo desejo de estar do lado. Falsa ilusão.

Minhas memórias lembravam de quando em dias escuros, olhava-te longe. Era alguém com uma alma tão pura e alegre. Fiquei encantado com aquele jeito. Fascinado com a história, que ganhava contornos. Apaixonei.

Quando esperei os dois anos, parecia que me tratava de um outro jeito. Era uma pessoa lembrada. Fazia questão de estar perto e me ver crescer, colocando no tronco do discurso barato e bem feito. Criei uma confiança.

Eu te disse "te amo" e colocaste-me no frio. Sabia que frutos não sairiam, mas não precisava me jogar tão fundo da senzala e abusar. Nem minha presença era mais bem-vinda. Voltei a escuridão, apenas vendo uma pequena luz quadrada.

Fui chamado. Achei ter uma esperança. Na verdade, estavas me batendo com chicote em outro tronco. Eram suas palavras, fazendo me sentir inferior. Como se estivesse abaixo de sua "tal inteligência". Voltei à prisão dos desacreditados.

Foram meses tricotando rosas. Jogava de minha janelinha para ver. Todas recebidas. Todas jogadas fora. Eu estava a beira. Quando teria a liberdade? Sentir-me livre. E tu? Esqueceste mesmo de mim. Usaste uma borracha no papel ou rasgaste páginas do seu livro? Poupe-me, virei uma página negra.

Hoje, em minhas cartas de areias, eu vi tudo que passei. Acho que meus olhos chegaram ao limite de tudo. Posso ser sincero? Cavarei um buraco na senzala. Vou me fazer livre. Tome sua alforria. Que liberdade? Isso sempre tiveste. Agora, sou eu.

Pressiono meu dedo. Agora, te apaguei. Seja livre. Eu fico liberto.

Sofia do Itiberê
Enviado por Sofia do Itiberê em 27/07/2016
Código do texto: T5710326
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