O Par de Botas

Guardadas no armário há tanto tempo sem uso, inventei de pô-las em novas caminhadas. Elas simplesmente se desfizeram, começando pelos detalhes colados e depois os saltos se soltando. Tentei consertá-las, insisti. Eram praticamente novas e me recusei a encostá-las num canto. Traduziam um tempo de viagens que fiz ao litoral na minha moto, uma gostosa e robusta estradeira. Sem contar os vários vais e vens a pé de cerca de seis anos atrás. De lá pra cá, sei lá porque, aderi aos tênis desse estilo náutico. Leves e mais confortáveis, mas bem menos seguros que elas, as botas. Topavam qualquer terreno, fosse qual fosse, sem qualquer necessidade de negociação com pedras, poças ou buracos. Vou dá-las a alguém que ainda tenha idade pra isso, pois com um bom conserto, decerto serão ainda muito úteis. Quanto a mim, voltarei aos tênis, evitando pedras, poças e buracos. Minha idade merece isso e meu amor já me calça e protege o suficiente, com todo seu caminho aveludado, feito sob medida aos meus pés cansados.

GripenNG
Enviado por GripenNG em 20/06/2016
Reeditado em 03/08/2016
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