Um homem de regras

Escolhi transformar-me em um homem de regras. Desde que me entendo por gente, encontro padrões, prevejo resultados e estabeleço restrições. Para cara mísero detalhe, existe ou existirá controle.

Aos doze, criei uma regra que me precavia de chateações: é proibido fazer atividades escolares após as dezenove horas. Essa foi uma das minhas regras idiotas que durou mais tempo. Até que eu entrasse no terceiro ano do ensino médio, foi assim: minhas tarefas eram feitas até o horário estipulado ou simplesmente não eram feitas.

Aos dezesseis, inventei outra regra que diz o seguinte: é proibido acompanhar transmissões televisivas. Bom, não me recordo de qual o último jogo de futebol que assisti, não faço ideia de quais são as novelas do momento e, na verdade, faz meses que não assisto televisão. Há quem diga que cheguei ao extremo, mas a ideia de estar preso a horários não me agrada. Conheço muitas mulheres que não saem no horário da novela, conheço incontáveis homens que não se mexem do sofá no horário do jogo.

De qualquer forma, os últimos parágrafos só exemplificam o quão bobas e minuciosas podem e devem ser nossas restrições. Fiz-me um homem de regras não por achar que devemos viver cheios de controles e precauções, fiz-me assim porque entendi que quando temos regras, sabemos estipular exatamente o que é necessário para nos fazer desejar quebrá-las.

A ligação daquela garota enquanto você estuda, o chocolate trazido por uma amiga durante um período de dieta, a quebra antecipada do cofrinho para presentear a irmã. Uma vez estipulada a regra da dieta, a restrição de concentrar-se no estudo, o controle para juntar dinheiro, fica fácil – ou menos difícil – saber quando vale a pena chutar o balde e mandar à merda suas precauções.

Enchi-me de regras para relacionar-me com as pessoas e posso ainda manter-me fiel à regra de não acompanhar programas de tevê, mas espero verdadeiramente querer quebrar todas as minhas regras por você.

Não sei sobre as outras regras do mundo, no entanto, afirmo que as minhas foram pensadas para serem quebradas, foram inventadas para apontar aqueles ou aquelas pelos quais devo me apaixonar e permitir reestruturar os parâmetros que regem o meu viver.