Ela sempre chega de surpresa...

Na maioria das vezes, nos pega "desprevenidos", e nos torna reféns de toda dor e sofrimento que traz consigo. Ela não escolhe data, nem local, muitas vezes chega como um furacão, partindo milhares de corações, e desfazendo fortes laços. É ela, a morte.

Não poderia deixar de escrever sobre ela hoje, neste final de semana, meu pai perdeu um dos seus 8 irmãos, foi horrível.

Começo de tarde da sexta-feira, todas as pessoas confortáveis com o início do final de semana, esperando pelo término do horário de expediente da semana. Chovia muito, e a pressa ,literalmente tornou-se a maior inimiga de meu tio naquele momento. Estava dirigindo em alta velocidade, e sem o cinto de segurança,o velocímetro beirava os 140 km/h ,uma enorme poça d'água o fez perder a linha de direção e delimitou ali o último suspiro dele, se encerrava naquele momento uma trajetória de 45 anos.

Meu pai estava trabalhando em uma cidade distante quando os irmãos avisaram-no da fatalidade, eu não estava presente.Ele já não é mais jovem, seus 54 anos estão desenhados nas rugas de seu rosto, no branco de alguns fios de cabelo, e em seu andar meio torto.Eu não sei como ele reagiu na hora, e não sei como seria presenciar àquilo. Realmente fazia muito tempo que ele não perdia alguém tão próximo, eu estava saindo da empresa onde trabalho quando ele me ligou para dar a notícia,estava desolado, fiquei em choque.

Vim para casa o mais rápido possível,ele iria sair da cidade naquele momento,iria demorar em torno de 3h para poder chegar aqui,para irmos todos ao velório. Quando chegou,estava inconsolável, abracei e tentei secar algumas de suas lágrimas, não consegui me conter, a dor de ver meu pai naquela situação me tomou.

O velório foi sem dúvidas, muito triste e frio. Os filhos dele desesperados em cima do caixão, sentindo-se desamparados e sem razão em viver, sua pequena filhinha adotiva de apenas 5 anos aos prantos fazendo carinho em seu rosto gelado...aquelas imagens nunca sairão da minha cabeça. Meu pai passou a noite inteira no velório, sem comer e nem beber nada. Isso me torturava mais ainda. O enterro foi conduzido por uma chuva fria, que se misturava com as lágrimas no rosto dos filhos,irmãos e familiares de meu tio, eu já não suportava mais presenciar toda aquela cena de sofrimento. Nunca havia visto em minha vida meu pai tão inconformado, não há palavras para descrever. É nesse momento que vemos que quando a morte chega ,os rancores e mágoas ficam para trás,as inimizades e dívidas tornam-se mera poeira frente a negatividade que cerca um túmulo. A cada tijolo a mais que o coveiro colocava para fechar o túmulo eu refletia o quanto a vida é curta e o quão egoístas nós somos. Você aí trabalhando 12 horas por dia, fazendo hora extra no final do expediente para guardar mais dinheiro...e de repente a vida vem e te leva, assim como leva um castelinho de areia na beira da praia que uma criança demorou horas para construir. Cheguei a conclusão que não somos nada. Sim, isso mesmo. O que temos não é nosso. E o que teremos ainda não nos pertence, devemos primeiramente viver intensamente o agora, sem poréns e nem porques, apenas amar, valorizar e aproveitar, a vida é um mistério,você não sabe se vai viver o tempo suficiente para realizar todos os seus sonhos, portanto faça da vida o seu maior sonho, e tente realizá-lo a cada dia que passa, valorizando a sua e a de quem te ama, pois nada nem ninguém consegue se equiparar a dor de ver uma pessoa encaminhando-se aos sete palmos do chão.

Natália Matuchaki
Enviado por Natália Matuchaki em 24/04/2016
Código do texto: T5615127
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