O Encontro

Esta noite tive um sonho estranho, encontrava comigo mesmo, e diante de minha própria imagem conversava a respeito do passado, presente e futuro...

Ele como eu, concordava em muitos pontos e discordava também, nossas decisões sempre emergiram de nossos conflitos, rimos juntos dizendo que quando um de nós se cansava o outro ganhava a disputa; nos entristecemos pelo que ambos desistimos e admitimos quando estávamos errados, mesmo quando saindo vencedor de um debate, seja em argumentos ou por desistência...

Comentamos de sonhos, metas, sobre o que nos assustava, sobre nosso futuro, fazíamos isso enquanto observávamos o belo horizonte a nossa volta, era um topo de morro descampado cortado por um fino fio d'água, que descia muitos metros abaixo formando um lago em seguida formando um rio que escorria pela planície de grama rasa, um belo por de sol alaranjava nossas vistas e nossos rostos, estávamos muito felizes com o encontro...

Embora antagônicos em nossas participações, entre ir e ficar, erguer a cabeça e desistir, calar a falar...

Nunca fomos inimigos, somos um e assim nos entendemos e completamos, não há clara distinção nem em grau tampouco de peso, apenas acordes diferentes de uma mesma canção...

Após breve observação entendemos que tudo a nossa volta na verdade funcionava como pequenas centelhas conscientes de nós mesmos, como se cada folículo daquela grama rasa, alaranjada pelo sol que descia pelo horizonte, fossem também pequenas facetas de nós mesmos, por mais parecidos que sejamos, há tantos de nós e tantas possibilidades...

Tantos sorrisos, tantas dores, tantos amores, tantos sonhos, já caía a noite, a grama levemente elucidada pela luz da lua fazia um belo contraste com céu estrelado daquele dia, nos perguntamos se era razão especial, ou espacial simplesmente...

Quanto a isso nunca chegamos a um consenso...

Mas notamos também que cada estrela brilha em seu tempo, se for capaz de ir até o fim consegue o milagre da ressurreição, quando forte o suficiente para queimar até o fim, terá o recomeço então se espalhando pelo cosmos distribuindo sua matéria e elementos pelo infinito...

Enquanto um lado pendia ao acaso o outro transcendia a questão, mas em nenhum momento discordando plenamente, eram mais como idéias complementares, embora tendesse a divergência, talvez a tensão da corda sirva para apertar os laços afinal...

Então o fim daquele encontro viria logo em seguida, não nos despedimos; afinal nunca nos separamos...

Não dizemos até logo nem mesmo até breve, pois iríamos ao mesmo lugar...

Entreolhamos nossas faces por um instante e sorrimos o mesmo sorriso, ambos muito satisfeitos pelo encontro, desfrutamos do ato "observado e observador" mutuamente, não para realçar nossa existência, seria mais como poder ver de fora quem habita a bela pintura do quadro, mesmo sendo o observador, o modelo do quadro observado...

Em um movimento simultâneo saltamos para o lago que se formava abaixo e momentos antes de tocar a superfície da água, acordei...

Zeu Rodrigues
Enviado por Zeu Rodrigues em 08/03/2016
Código do texto: T5567488
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