ABNORMALISMO
 

Hoje, abdico de toda forma de tentativa de entender o tal existencialismo de alguns alvejantes pássaros sapiens, e inauguro (apesar de condenado a ficar ao obscuro desconhecimento ou ao público desfeitio) o “Abnormalismo Humano”.

E, para iniciar, pergunto onde estão Heidegger, Sartre, Shopenhauer, Camus e tantos outros gênios, se é que existiram independente de seus próprios (e dos nossos) modos de ver as coisas?

Ora, pois, que se a existência há em prevalência sobre a essência, e se da essência faz parte a razão adquirida e as emoções fermentadas à mente, já nada mais há que deixe de ser contaminado nesta mesma existência supostamente prevalecente, uma vez que, onde quer que seja que se aporte o pensamento humano, a racional ou demente essência passa a superar e a vigorar.

E é assim que o existencialismo se condena: pelo uso das mesmas lógicas (ou desvarios) contidos em uma mente humana, seja ela mais avantajada em questões culturais, filosóficas ou científicas.

Mas tal posição superior psiquicamente não muda a origem nem dos homens, nem do que se lhe surge, como suas lendas, seus inventos, seus intentos, seus mitos, seus ídolos, seus deuses, suas crenças, suas esperanças, seus amores, seus ódios, seus rancores, suas dores e toda infinidade de pensamentos ou de emoções; mas tão somente servem para aprimorar e agigantar, cada vez mais, a cega visão da abnormidade.

Digo eu para os neons dançantes, para as sombras subterfúgias e para os vazios lacunares que, uma vez surgidos por uma singularidade (como outras que há), tornamo-nos o próprio tudo, desde que dentro da “Grande Barreira” em que nos situamos, desde então.

Assim, não nos é mais possível pousar qualquer olhar além dela, sob o risco de inaugurarmos um fato, uma subjeção, um tudo e até um nada; fazendo, assim, não com que vejamos, elucidemos ou descubramos algo, mas sim com que inauguremos algo novo dentro de nossos já infindos limites (ou seja, dentro dos limites da Grande Barreira).

Isso posto, Heidegger, Sartre, Shopenhauer e Camus, como tantos outros, ainda existem em nossos pensamentos, como uma extensão ou como um resquício de toda uma raça sapiens de surgimento abnormal, que ainda se expande. Porém, para si mesmos (individualmente) cessaram: sem pensamentos, sem emoções e em confinamento fora da Grande Barreira humana, no que chamo de “Apagamento”.

Paradoxalmente, continuarão como se tivessem existido em nossas mentes (uma vez que a abnormidade não se compõe de um ser, mas de todo o seu conjunto, considerando a transmissão de conhecimentos, de ideologias, de crenças e de demências globulares), enquanto ainda caminhamos (em única, indivisível e despercebida abnormidade) por esse caminho quase infindo, que temos pavimentando desde o surgimento da espécie.

Não obstante, o que aconteceria se toda a raça sucumbisse perante o “Apagamento”?

Eis o abnormalismo: não haveria uma existência livre do sapiens. E nada que eu (ou qualquer um de nós) disser pode representar o que pudesse existir, porquanto uma vez dito, pensado ou registrado por uma esferográfica, até isso padecerá inexoravelmente com o conjunto de novas, faustas e espúrias gêneses humanas.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 19/06/2015
Reeditado em 19/06/2015
Código do texto: T5282806
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