A Arte de Partir (In Memoriam)

E já se foram seis meses de nossa despedida, e ainda é fácil pegar-me lembrando dela, qualquer senhorinha baixinha que passe por perto de mim eu tenho vontade de abraçar bem apertado só pra chegar um pouco perto do que era o seu abraço, aquele abraço de avó que ninguém sabe imitar.

Sei que agora descansa nos braços mais aconchegantes que se possa imaginar, nos braços do nosso eterno pai, sei que suas dores se foram, suas lutas acabaram, não há mais problemas e nem preocupações, o sol brilhou de forma mais bonita quando acordou no céu.

Ouço e canto sua música favorita que desta vez realmente paro para prestar atenção no trecho o qual descreve o porquê de sua partida:

"Levou-me as dores todas

As mágoas lhe entreguei...

até que venha a mim o tempo de morrer

Aos céus então voando

Sua glória eu verei

Onde a dor e a morte nunca vêm. "

Ela partiu para glória e dores nunca mais irá sentir. Consciente de que o tempo vivido, festejado ou sofrido impunha encarar com tranquilidade o mistério da eternidade. O nosso último encontro foi em sua sala, lugar que tanto reuniu família, amigos e onde minha infância se faz presente , ela com as pernas trêmulas sem força para ficar de pé, eu a ajudando ir até o quarto deitar-se, com o olhar confuso e com bastante dificuldade dormiu e chegado sua hora, nunca mais acordou.

Que saudades que tenho dessa senhorinha que tanto me ensinou e disciplinou, a melhor babá do mundo que mesmo eu, com 20 anos de idade, ainda me enchia de elogios e mimos, sempre ressaltava sua admiração com meu esforço em correr atrás de sonhos que nossas condições diziam "não". Sempre recordo de minha adolescência em que ficava a tarde toda em sua casa para não ficar sozinho na minha, aquela comida cheirosa, aquele café que a rua toda conhece, (a culpa é dela por hoje eu tomar café o dia inteiro), era a melhor companhia de sessão da tarde, mesmo ela sempre cochilando no sofá ao lado (rs).

Saudade que aperta, saudade que se mostra em lágrimas, mas que contenta-se com a vontade de Deus que é perfeita e agradável. A Arte de partir e continuar viva em meu coração, ela soube e fez direitinho, por mais que a saudade aperte o peito, o que me consola é a esperança de um dia nos encontrarmos na eternidade, onde mais uma vez serei lisonjeado em assistir a suas belas gargalhadas.

In Memoriam

Dona Lourdes.

Luan Santos
Enviado por Luan Santos em 22/04/2015
Reeditado em 11/05/2015
Código do texto: T5216068
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