É hora de partir

Muitos de nós já teve se partir um dia, sair de casa, sair do emprego, da cidade, do país... Isso parece muito comum quando pensamos nisso de maneira genérica, pensamos: ah ok as coisas fluem assim é a vida...

Mas existe algo que vem depois destas reticências, e é como isso acontece, não sei se todos se identificam com o que vou dizer aqui, mas acredito que uma ou outra pessoa se parece muito comigo nesse aspecto e é capaz de concordar talvez em todo ou em partes.

Jamais deixei de abrir mão das coisas para poder trilhar a minha senda, o meu caminho que nem sei por onde vai, descubro todo dia. Jamais deixei de abrir mão de ir para ficar e de abrir mão de ficar para poder ir, pode parecer egoísta, sem coração mas é isso quase sempre eu abri mão de ficar para poder ir embora.

Acredito que somos exatamente como bebes recém nascidos, completamente dependentes, dependentes de carinho,, de comida, de agua, de ar, de colo, de mãe, de pai, de carrinho, de caminha, de papinha, de leite, de roupinha passada, de remedinho, de xarope, de uma sonequinha, de brincadeiras, e adoramos quando somos o centro das atenções e toda a gente fazendo de tudo para nos arrancar uma risadinha. Amamos nossos brinquedinhos, principalmente aqueles de morder porque nossos dentinhos estão nascendo, ahhh e esses dentinhos quando estão nascendo nos dão uma tremenda febre e ficamos muito enjoadinhos.

Ou seja, nós aprendemos tanta coisa, e quando estamos adultos como nos comportamos? Exatamente como um bebe recém nascido, mas não por necessidade, e sim por capricho, ficamos exatamente onde é mais confortável, está tudo bem assim, tudo estruturado... O que seremos sem o papai? sem a mamãe? sem minha caminha? sem adulação? sem meus brinquedinhos eletronico será que vou morrer de febre? sem meu carrinho como vou ali na esquina? Bah quanta besteira Crystal, é o que venho pensando, a fase do nenem recém nascido passou e essas dependencias não nos fazem mais dormir tranquilos e relaxados em nosso bercinho, nos trazem dor, stress, panico...

Gostaria de me expressar como me sinto porque acho que são unicos momentos, me sinto como uma criança que acabou de ganhar sua bicicleta e está feliz da vida e morrendo de medo de cair, mas que vai conseguir se equilibrar em cima da magrela e jamais vai esquecer daquilo, mesmo perdendo a pratica...

Cada vez que preciso partir é assim, me sinto dessa maneira... já escutei tanta coisa: "sagitarianos são instáveis" "voce é covarde dá as costas ao que construiu" "se dedicou tanto e jogou tudo no lixo" " vc não é feliz...."

Confesso que por muitos anos da minha vida pensei isso de mim, o que os outros diziam, achava que buscava a felicidade até me dar conta de que sou feliz, achava que buscava o amor até me dar conta de que amo, descobri que nada disso é o que eu sempre procurei, e descobri que não procuro absolutamente nada.

Complexo? Sim, bastante, mas quem vive isso de estar aqui e ali sabe como é a energia do abandono. Quando a hora de partir vem chegando o coração fica apertadinho e não fazemos ideia de como vamos dizer adeus, passam-se as semanas e finalmente chegamos ao estopim e finalmente chega o dia de dizer adeus, mas esse dia passa mais devagar que vida eterna, parece uma bigorna nas costas, e depois disso acontece e dizemos o tão temido adeus... E agora? Meu deus o que eu fiz? Vem as duvidas, não dormimos a noite... O que vai ser da minha vida?

E finalmente nasce o sol, e tras consigo a bicicleta, e aí olho pra dentro e digo bom é sim ou sim, é agora ou nunca, e aí sentimos aquela alegria, aquela paz nos preenchendo aquela real motivação... O novo, mas o novo com as experiencias que adquirimos, então espera nada é igual é tudo de novo mas é bem mais especial a cada vez que isso acontece...

São muitas dores na hora de partir, porque aquele que parte por uma causa nobre, por uma motivação verdadeira sente as dores de si mesmo e dos demais que ficam, e pode acreditar que sente, e ainda tem de enfrentar as acusações até que venha o sol.

Cada partida é uma chegada, a partida não é coisa para covardes e nem a fincada, quem fica tem muito sangue em seu coração, mas não se esqueçam de que quem parte também tem um coração, talvez aquele que abandona não seja a melhor das pessoas, digo mais talvez ele seja a pior das pessoas, mas tem coragem, e muita, porque as vezes no caminho existem ruas sem saídas, e é preciso jogar dinamite e morrer para seguir.

Foi enorme eu sei, mas que tenham paz, saúde e força sempre, que costumizemos as bicicletas que o sol nos tras, que sejamos muito felizes e amemos uns aos outros onde estivermos.

Crystal Ribeiro
Enviado por Crystal Ribeiro em 05/01/2015
Código do texto: T5091978
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